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Aposentado vira "caçador" de ex-alunos
Ao longo de 18 anos, economista paulistano acha antigos colegas de turmas e organiza festas de reencontro
Maurício Abdalla, 67, já chegou a fazer mais de 200 telefonemas para encontrar uma só pessoa: José da Silva
FLÁVIA MANTOVANI
DA REVISTA SÃOPAULO
O nome do alvo não ajudava: José da Silva, assim, puro, sem nenhum sobrenome
mais exótico para facilitar.
Mas Maurício Abdalla, 67,
não parou enquanto não
achou o sujeito.
Mais de 200 telefonemas
depois, chegou ao José certo,
aquele que tinha se formado
em direito na Universidade
de Guarulhos em 1973.
Maurício não é detetive,
mas poderia: tem 18 anos de
experiência na arte de encontrar pessoas -e também de
reuni-las em reencontros
cheios de choro e abraços.
Economista, o paulistano
criou, depois de aposentado,
a Convivium, empresa que
organiza comemorações de
ex-alunos e, principalmente,
encontra os convidados.
Para começar, ele e a mulher, Neli Abdalla, 65, se debruçavam na lista telefônica
para procurar todos os alunos de turmas que podiam
ter dez ou 3.000 pessoas.
Se o nome do convidado
não estivesse na lista, eles ligavam para pessoas com o
mesmo sobrenome ou para
vizinhos. Se ainda assim o
ex-aluno não aparecesse,
iam ao endereço antigo dele.
Hoje, há quatro pessoas a
procura pelos convidados.
A internet ajudou bastante, mas os telefonemas ainda
são um recurso importante
para manter a média da empresa, de 90% de sucesso.
Só de ligações, são necessárias cerca de seis ou sete
para achar alguém -isso se
não for um José da Silva.
O empresário diz que muitos interlocutores se empolgam e começam a perguntar
dos ex-colegas. "Eles dizem:
"Fulano vai? E aquela menina bonita, você localizou?'".
É preciso lidar também
com as mortes -curiosamente, duas vezes mais frequentes nas turmas de advogados.
Maurício tem um palpite para o dado insólito.
"É comum que pessoas
mais velhas façam direito,
depois de se aposentarem;
30 anos depois, muitas já
morreram."
Outro dado curioso é que
muito mais médicos, por
exemplo, casam-se com alguém da mesma turma
-mas o índice de separações
também é mais alto.
Maurício acompanha todos os eventos. As pessoas
recebem crachás de identificação, e ele adora ver o momento em que elas se reconhecem. "Elas choram, se
abraçam. É emocionante."
A média de comparecimento nas festas, no entanto,
é baixa, de cerca de 40%.
Mesmo com todo o trabalho,
Maurício só tem uma reclamação: depois da dificuldade para achar o José da Silva,
o "filho da mãe" não foi ao
reencontro de sua turma.
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