São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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Aposentado vira "caçador" de ex-alunos

Ao longo de 18 anos, economista paulistano acha antigos colegas de turmas e organiza festas de reencontro

Maurício Abdalla, 67, já chegou a fazer mais de 200 telefonemas para encontrar uma só pessoa: José da Silva

FLÁVIA MANTOVANI
DA REVISTA SÃOPAULO

O nome do alvo não ajudava: José da Silva, assim, puro, sem nenhum sobrenome mais exótico para facilitar. Mas Maurício Abdalla, 67, não parou enquanto não achou o sujeito.
Mais de 200 telefonemas depois, chegou ao José certo, aquele que tinha se formado em direito na Universidade de Guarulhos em 1973.
Maurício não é detetive, mas poderia: tem 18 anos de experiência na arte de encontrar pessoas -e também de reuni-las em reencontros cheios de choro e abraços.
Economista, o paulistano criou, depois de aposentado, a Convivium, empresa que organiza comemorações de ex-alunos e, principalmente, encontra os convidados.
Para começar, ele e a mulher, Neli Abdalla, 65, se debruçavam na lista telefônica para procurar todos os alunos de turmas que podiam ter dez ou 3.000 pessoas.
Se o nome do convidado não estivesse na lista, eles ligavam para pessoas com o mesmo sobrenome ou para vizinhos. Se ainda assim o ex-aluno não aparecesse, iam ao endereço antigo dele.
Hoje, há quatro pessoas a procura pelos convidados.
A internet ajudou bastante, mas os telefonemas ainda são um recurso importante para manter a média da empresa, de 90% de sucesso.
Só de ligações, são necessárias cerca de seis ou sete para achar alguém -isso se não for um José da Silva.
O empresário diz que muitos interlocutores se empolgam e começam a perguntar dos ex-colegas. "Eles dizem: "Fulano vai? E aquela menina bonita, você localizou?'".
É preciso lidar também com as mortes -curiosamente, duas vezes mais frequentes nas turmas de advogados. Maurício tem um palpite para o dado insólito.
"É comum que pessoas mais velhas façam direito, depois de se aposentarem; 30 anos depois, muitas já morreram."
Outro dado curioso é que muito mais médicos, por exemplo, casam-se com alguém da mesma turma -mas o índice de separações também é mais alto.
Maurício acompanha todos os eventos. As pessoas recebem crachás de identificação, e ele adora ver o momento em que elas se reconhecem. "Elas choram, se abraçam. É emocionante."
A média de comparecimento nas festas, no entanto, é baixa, de cerca de 40%. Mesmo com todo o trabalho, Maurício só tem uma reclamação: depois da dificuldade para achar o José da Silva, o "filho da mãe" não foi ao reencontro de sua turma.


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