São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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HIGIENE
Promotor pede fim de distribuição
Prefeitura dá leite com coliforme fecal em SP

CIBELE BARBOSA
da Folha Ribeirão

Laudo do Instituto Adolfo Lutz de Ribeirão Preto (319 quilômetros de São Paulo) constatou que o leite distribuído gratuitamente pela Prefeitura de Santa Rosa do Viterbo (305 quilômetros de São Paulo) é impróprio para o consumo humano.
O leite é consumido desde abril de 1996 por pelo menos 2.000 pessoas todos os dias -o que equivale a 10% da população da cidade. A prefeitura entrega o produto para cerca de 500 famílias de baixa renda.

Bactérias
Foram encontradas bactérias do grupo coliforme fecal em quantidade de 4,3 coliformes por mililitro no leite consumido pela população. O tolerável, de acordo com o Instituto Adolfo Lutz, é 1 coliforme por mililitro.
As condições de pasteurização do leite, comprado pela prefeitura de 12 produtores rurais e processado em uma "vaca mecânica", também foram consideradas irregulares em outro laudo, feito pela Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
De acordo com o laudo da secretaria, as irregularidades são as seguintes: as instalações favorecem a entrada de animais domésticos, não há área para recepção do leite, não há bloqueio sanitário para higienização dos funcionários que trabalham no local, a temperatura do leite na máquina é inadequada e o processo de embalagem e estocagem é irregular.
O promotor de Santa Rosa, Aroldo Costa Filho, que requisitou os exames, determinou anteontem a suspensão imediata da distribuição do leite.
"O prefeito e o secretário da Saúde foram oficiados. Caso descumpram a requisição, eu vou encaminhar o caso à Justiça para incriminá-los judicialmente", afirmou o promotor.

Doenças
De acordo com o próprio secretário da Saúde, Luiz Sborgia, que é médico, o consumo do leite sem pasteurização pode transmitir doenças como febre aftosa, botulismo, tuberculose, estomatite e infecções do aparelho digestivo, levando à desidratação.
Antes de ser processado na "vaca mecânica", o leite era distribuído in natura para as 500 famílias.
A dona-de-casa Neusa Vaz de Oliveira disse que parou de pegar o leite distribuído pela prefeitura há mais de um mês por ordens médicas, depois que ela e seu filho Rafael, 7, tiveram feridas nos lábios e na mucosa bucal.
"Foi só parar de tomar o leite e fazer o tratamento que nós não tivemos mais feridas", disse a dona-de-casa.
A chefe da seção de Microbiologia Alimentar do Instituto Adolfo Lutz, Dilma Gelli, disse que, após ser retirado da vaca, o leite deve ser resfriado, pasteurizado e refrigerado para não atrair bactérias.
A prefeitura fará licitação para a compra do leite pasteurizado para distribuição às famílias carentes.



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