São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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CRIME
O valor levado da Transpev foi estimado em R$ 5 mi pela polícia; cerca de 20 ladrões com fuzis participaram da ação
Grupo faz reféns e rouba sede de carro-forte

José Maria da Silva/Folha Imagem
O pátio da sede da Transpev, que foi invadido pela quadrilha armada com fuzis e submetralhadoras


da Reportagem Local

Um grupo de 20 assaltantes sequestrou as famílias de dois funcionários da Transpev e as manteve em cativeiro para obrigá-los a deixar a quadrilha entrar na sede da empresa de transporte de valores em São Paulo e roubar R$ 5 milhões, segundo estimou a PM.
Até ontem, a Transpev não havia informado à polícia o valor exato do roubo. Caso o valor seja confirmado, este será o maior assalto do ano em São Paulo.
Armados com fuzis e submetralhadoras, os assaltantes sequestraram sete familiares do coordenador de segurança José Carlos Serpa, 33, e do segurança Jenilson Correa da Silva, 23.
A ação dos criminosos começou às 18h45 de anteontem, quando eles chegaram à casa de Silva em um furgão. O segurança estava trabalhando na sede da Transpev.
Os ladrões se passaram por policiais e disseram aos familiares do segurança que todos deveriam acompanhá-los ao 7º DP, pois estavam investigando "roubos que ocorreram na Transpev".
Ficaram reféns os sogros, dois cunhados e o filho de um ano e sete meses de Silva. Os ladrões esperaram a mulher do segurança chegar até as 21h30, mas ela não apareceu, e eles desistiram dela.
Os assaltantes colocaram os reféns num furgão e os levaram a uma casa na praça Senador José Roberto Leite Penteado, no Alto da Lapa (zona noroeste).
A quadrilha havia invadido o imóvel, que estava vazio esperando ser alugado. Nele, já estavam Serpa, o coordenador de segurança, sua mulher e o filho do casal.
Um dos assaltantes estava ocupando a guarita da casa, vigiando o movimento na rua. A quadrilha pôs um microfone de lapela em Serpa e entregou-lhe as carteiras de identidade dos sogros de Silva.
O microfone permitia aos assaltantes ouvir, por meio de um receptor, tudo o que o coordenador dizia. Serpa foi levado à Transpev e obrigado a entrar na empresa e a procurar o segurança Silva.
Serpa contou o que estava acontecendo ao segurança e mostrou as carteiras de identidade dos sogros de Silva para provar que os assaltantes os mantinham como reféns. Com isso, os dois abriram a porta da empresa para os ladrões.

20 ladrões
Cerca de 20 deles tomaram conta da Transpev. Eles, que permaneceram na empresa até a 0h, encheram com malotes um furgão. O dinheiro armazenado na base da Transpev ia ser entregue em postos bancários de empresas que iam pagar os funcionários ontem.
Após apanhar o dinheiro, a quadrilha fugiu em um Escort, em um Omega e no furgão. O coordenador de segurança foi levado pelos ladrões e libertado na marginal Tietê, próximo da ponte da rodovia Anhanguera.



"Deu tudo certo. Vocês estão liberados, e nós estamos mais ricos." Assim um dos ladrões se despediu dos familiares dos funcionários da Transpev que eram mantidos como reféns.
Os ladrões que estavam na sede da empresa de transporte de valores passaram um bip para os companheiros que mantinham os reféns num quartinho nos fundos de uma casa. A mensagem dizia que o assalto havia dado certo.
O mesmo ladrão disse aos reféns que eles deveriam permanecer na casa, pois a polícia seria avisada e estaria ali em 30 minutos. Passado esse tempo, o refém Jesse Alves de Vasconcelos, 26, saiu da casa e chamou a PM. A Lapa (zona noroeste) foi vasculhada pela polícia, que não achou os ladrões.
Além das armas, fuzis e submetralhadoras, o grupo usou ainda rádios sintonizados nas frequências de comunicação das Polícias Civil e Militar, telefones celulares, aparelhos de bip e microfone.
Com eles, eles acompanharam o movimento dos reféns e da polícia. Nenhum tiro foi disparado. Ninguém ficou ferido.
A polícia apura a possibilidade de o assalto a Transpev estar ligado a outro roubo ocorrido em Araçatuba (532 km a noroeste de SP) neste ano. Naquela cidade, um grupo de assaltantes invadiu a sede da transportadora de valores Protege e levou R$ 2 milhões.

Sigilo
A Polícia Civil tentou manter em segredo detalhes do assalto, negando à imprensa o acesso ao boletim de ocorrência com as informações sobre o roubo a Transpev.
"Não tenho estrutura nessa delegacia e ainda tenho que cuidar de 90 presos", disse o delegado Pedro José da Silva, do 93º DP, para justificar a decisão.
O delegado se limitou a confirmar a existência do assalto. "Não revelo dados pessoais dos envolvidos", afirmou. Disse também que estava sozinho na delegacia e que havia recebido apoio da Delegacia Geral de Polícia para sua decisão.
O registro do caso causou disputa entre o 93º DP e o Depatri (Departamento Estadual de Investigações sobre Crimes Contra o Patrimônio). Ambos queriam ter primeiro as informações do crime, mas até a noite de ontem não tinham pistas dos criminosos.



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