São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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DANUZA LEÃO

O que rola

Ninguém sabe muito bem em quem vai votar, e as pessoas navegam de Serra a Lula e Ciro sem saber que rumo tomar.
Quando se fala em Lula, existem muitos e variados argumentos para votar nele ou não. Pontos a favor: um nordestino que chegou a São Paulo num pau-de-arara e fez uma grande carreira política; sua honestidade; seu empenho real em mudar o Brasil; a possibilidade de conseguir; tudo que aprendeu nos últimos anos; ser um homem que não mente; mexer nas estruturas do país e dar uma chance aos mais pobres, através de sua experiência.
Pontos contra: está vestindo Armani; fez alianças que não poderia ter feito; sua mulher, Marisa, está comprando roupa na Daslu; Duda Mendonça é quem está mandando nele; não sabe falar nem inglês nem francês - e fala mal o português; depois de Fernando Henrique, cheio dos diplomas, não é possível ter um presidente que não estudou e não deve saber direito segurar o garfo e a faca - e por aí vai.
Os pró-Ciro não se cansam de falar de sua dedicação a Patrícia Pillar quando ela esteve doente; dos anos que passou aprendendo, em Harvard; do fato de ser jovem, combativo e disposto; de não ter nenhum compromisso com ninguém; de suas certezas inabaláveis; de sua coragem de recusar apoio financeiro dos bancos; de ser bonito, sexy, e ter conquistado Patrícia Pillar, claro.
Já os que são contra não acreditam em nada do que ele diz; acham que o candidato repete demais que foi ministro da Fazenda - quando só esteve no cargo durante quatro meses; da sua agressividade, que beira a arrogância e a grosseria, quando é preciso; de sua estudada simplicidade, quando vai ao teatro ou passear na praia de Ipanema, como se não fosse candidato; da facilidade com que fala sobre qualquer assunto, como se fosse o único dono da verdade; e de, frequentemente, mentir.
E tem Serra: os que gostam acham que ele é o mais preparado dos candidatos; que conhece o mecanismo do governo como ninguém; que fala as línguas e vai fazer bonito pela imagem do país; que sabe tudo o que Fernando Henrique sabe, com a vantagem de saber dizer não, quando preciso; que sua alardeada antipatia e falta de paciência é exatamente o que faltou a FHC, que passou oito anos fazendo charme para os aliados e os adversários; que é o mais capaz de segurar nas mãos as rédeas do país.
Mas dizem também que Serra é teimoso e turrão; que não tem capacidade para negociar com os adversários; que é um inimigo feroz e vingativo; que mais quatro anos com os tucanos no poder é dose, e que sua política econômica vai ser igual à de Fernando Henrique, que deu no que deu.
Com todos esses dados a favor e contra, os eleitores oscilam, o país ferve e o dólar sobe, mas é preciso não confundir quem se sai melhor num debate com a capacidade de governar um país. Existem pessoas que têm o raciocínio rápido e também respostas na ponta da língua para qualquer pergunta -o que não quer dizer, necessariamente, que seja o mais capacitado. Outros têm charme, com alguma ironia, são capazes de empolgar a platéia, só que um debate não é um "talk show".
Debate não é concurso para eleger o mais simpático, o mais bonito, o que faz as melhores promessas, o mais esperto, o que tem mais presença de espírito. Até agora não dá para saber em quem se vai votar - ou se adianta votar.

E-mail -
danuza.leao@uol.com.br


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