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AfroReggae cresce com gestão empresarial
ONG abre núcleo no complexo do Alemão, atrai R$ 6,6 milhões em patrocínios em 2007 e consegue unir favelas, governos e Fiesp
ONG carioca, que começou como jornalzinho dedicado à música negra, consolida-se na produção de bens culturais, socioenômicos e políticos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O núcleo que o AfroReggae
inaugurou ontem, no complexo
do Alemão, não é só um núcleo,
assim como o auto-intitulado
"grupo cultural", criado há 14
anos, já não é só um grupo nem
só cultural. A ONG recebeu,
apenas neste ano, quase R$ 6,6
milhões em patrocínios e conseguiu atrair, apenas para o
Alemão, empresas grandes como Natura e Tim, além de
ações do governo do Estado.
O AfroReggae, que começou
como um jornalzinho dedicado
à música negra e ganhou contorno social após a chacina de
Vigário Geral, em 1993, consolidou-se em 2007 como empresa que produz bens culturais,
socioeconômicos e políticos
(apartidários). O coordenador-executivo da ONG, José Junior,
39, tem notória capacidade de
unir pontas diversas como moradores de favelas, governantes
e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"Temos um grande déficit de
lideranças no Brasil. Precisamos localizar novos Juniors,
pessoas que, apesar da dificuldade de terem nascido em comunidades pobres, são gênios
ou têm facilidade em absorver
o mundo à volta e podem se tornar representantes reais dessas
comunidades. Temos de mexer
juntos esse molho para a panela
não explodir", diz André Skaf,
26, filho do presidente da
Fiesp, Paulo Skaf.
O AfroReggae apresentou favelas cariocas a representantes
do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp. Estes, então,
apresentaram empresas ao
grupo e contribuíram para que
ele mudasse seu modelo: em
vez de apoio por projeto, cotas
de patrocínio institucional.
Petrobras, Natura, banco
Real e Vale do Rio Doce compraram as cotas por R$ 1,5 milhão. Elas ganham retorno de
imagem e são puxadas por Junior para outras iniciativas.
A Natura, por exemplo, está
formando vendedoras de seus
produtos no Alemão. A Tim patrocina o Prêmio Orilaxé (de
cultura negra) e o Conexões
Urbanas (shows de Caetano
Veloso e outros em favelas).
"Elas vão ganhar dinheiro,
não fazem isso porque são bonzinhas", diz Junior, que ainda
captou US$ 100 mil (R$ 190
mil) na americana Fundação
Ford, financiadora do grupo
desde 1996, e aplicou o que faltava da verba dada em 2002
(R$ 950 mil em valores corrigidos) pelo BNDES na conclusão
do Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral.
O público-alvo do AfroReggae são os jovens em áreas de
risco. Para tirá-los do tráfico ou
evitar que entrem, a ONG oferece oficinas de música, teatro,
dança, capoeira, grafite e circo,
dentre outras, e bolsas que vão
de R$ 80 a R$ 250. Mas o bolsista tem de estar na escola.
A faceta menos empresarial
do AfroReggae é a mediação de
conflitos. Junior e outros coordenadores negociam com traficantes a entrada de programas
sociais e até financiam líderes
comunitários para que não sejam cooptados pelo tráfico.
"Hoje, agimos menos como
bombeiros e mais na prevenção
dos incêndios. Tentamos chegar antes", diz Altair Martins,
26, presidente do AfroReggae e
um dos cabeças da banda AfroReggae, o mais antigo dos 13
grupos artísticos da ONG.
A banda embarcou ontem
para uma turnê de três semanas nos EUA, começando amanhã no Central Park, em Nova
York. Em todos os países onde
vai, o AfroReggae realiza oficinas. No exterior ou no Brasil,
não faltam propostas para o
grupo abrir franquias.
"Poderia montar AfroReggae
em todo lugar, mas aí vira imperialismo ao contrário e perde
a qualidade. Mostramos o nosso modelo e os grupos têm que
seguir seus caminhos", diz Junior, que patrocina cinco projetos, incluindo a Fábrica de
Criatividade, no Capão Redondo, em São Paulo, e um em Medellín, na Colômbia.
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