São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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AfroReggae cresce com gestão empresarial

ONG abre núcleo no complexo do Alemão, atrai R$ 6,6 milhões em patrocínios em 2007 e consegue unir favelas, governos e Fiesp

ONG carioca, que começou como jornalzinho dedicado à música negra, consolida-se na produção de bens culturais, socioenômicos e políticos

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O núcleo que o AfroReggae inaugurou ontem, no complexo do Alemão, não é só um núcleo, assim como o auto-intitulado "grupo cultural", criado há 14 anos, já não é só um grupo nem só cultural. A ONG recebeu, apenas neste ano, quase R$ 6,6 milhões em patrocínios e conseguiu atrair, apenas para o Alemão, empresas grandes como Natura e Tim, além de ações do governo do Estado.
O AfroReggae, que começou como um jornalzinho dedicado à música negra e ganhou contorno social após a chacina de Vigário Geral, em 1993, consolidou-se em 2007 como empresa que produz bens culturais, socioeconômicos e políticos (apartidários). O coordenador-executivo da ONG, José Junior, 39, tem notória capacidade de unir pontas diversas como moradores de favelas, governantes e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"Temos um grande déficit de lideranças no Brasil. Precisamos localizar novos Juniors, pessoas que, apesar da dificuldade de terem nascido em comunidades pobres, são gênios ou têm facilidade em absorver o mundo à volta e podem se tornar representantes reais dessas comunidades. Temos de mexer juntos esse molho para a panela não explodir", diz André Skaf, 26, filho do presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
O AfroReggae apresentou favelas cariocas a representantes do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp. Estes, então, apresentaram empresas ao grupo e contribuíram para que ele mudasse seu modelo: em vez de apoio por projeto, cotas de patrocínio institucional.
Petrobras, Natura, banco Real e Vale do Rio Doce compraram as cotas por R$ 1,5 milhão. Elas ganham retorno de imagem e são puxadas por Junior para outras iniciativas.
A Natura, por exemplo, está formando vendedoras de seus produtos no Alemão. A Tim patrocina o Prêmio Orilaxé (de cultura negra) e o Conexões Urbanas (shows de Caetano Veloso e outros em favelas).
"Elas vão ganhar dinheiro, não fazem isso porque são bonzinhas", diz Junior, que ainda captou US$ 100 mil (R$ 190 mil) na americana Fundação Ford, financiadora do grupo desde 1996, e aplicou o que faltava da verba dada em 2002 (R$ 950 mil em valores corrigidos) pelo BNDES na conclusão do Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral.
O público-alvo do AfroReggae são os jovens em áreas de risco. Para tirá-los do tráfico ou evitar que entrem, a ONG oferece oficinas de música, teatro, dança, capoeira, grafite e circo, dentre outras, e bolsas que vão de R$ 80 a R$ 250. Mas o bolsista tem de estar na escola.
A faceta menos empresarial do AfroReggae é a mediação de conflitos. Junior e outros coordenadores negociam com traficantes a entrada de programas sociais e até financiam líderes comunitários para que não sejam cooptados pelo tráfico.
"Hoje, agimos menos como bombeiros e mais na prevenção dos incêndios. Tentamos chegar antes", diz Altair Martins, 26, presidente do AfroReggae e um dos cabeças da banda AfroReggae, o mais antigo dos 13 grupos artísticos da ONG.
A banda embarcou ontem para uma turnê de três semanas nos EUA, começando amanhã no Central Park, em Nova York. Em todos os países onde vai, o AfroReggae realiza oficinas. No exterior ou no Brasil, não faltam propostas para o grupo abrir franquias.
"Poderia montar AfroReggae em todo lugar, mas aí vira imperialismo ao contrário e perde a qualidade. Mostramos o nosso modelo e os grupos têm que seguir seus caminhos", diz Junior, que patrocina cinco projetos, incluindo a Fábrica de Criatividade, no Capão Redondo, em São Paulo, e um em Medellín, na Colômbia.


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