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SAÚDE
Em São Paulo, 76% de mulheres de baixa renda tiveram de ir a dois ou mais hospitais antes de serem internadas para o parto
Pesquisa mostra peregrinação de grávida
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma peregrinação de 12 horas
por dois hospitais estaduais e um
municipal para conseguir uma
vaga em uma maternidade. Essa
foi a maratona que a dona-de-casa paulista Francinete Azevedo de
Medeiros, 24, enfrentou até dar à
luz a menina Melissa, na madrugada de anteontem.
Assim como ela, 76% das mulheres em trabalho de parto que
passaram pelo Amparo Maternal,
entidade filantrópica que atende
grávidas de baixo risco, tiveram
de percorrer dois ou mais hospitais antes de serem internadas.
Os dados são de uma pesquisa
realizada com 520 gestantes de
baixa renda pela enfermeira obstetra Rosely Erclach Goldman, 36,
professora do Departamento de
Enfermagem da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), no
segundo semestre de 2000.
Segundo Rosely, o principal
problema é que a maioria das gestantes não recebe orientação durante o pré-natal sobre qual maternidade deve procurar na hora
do parto. "Elas têm alta do pré-natal no 8º mês de gestação e depois precisam procurar, por conta
própria, um hospital que faça o
parto", diz a enfermeira, que
apresentou o trabalho como tese
de doutorado na Unifesp.
A pesquisa mostra que 80,4%
das gestantes realizaram o pré-natal na rede pública de saúde.
Dessas, 51% fizeram menos de
seis consultas, o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para Adalgisa Borges Nogueira
Nomura, 50, coordenadora do
plantão controlador de vagas da
região metropolitana, da Secretaria de Estado da Saúde, a peregrinação de gestantes não poderia
estar ocorrendo.
Ela diz que todas as gestantes,
ao terminarem o pré-natal, deveriam ser informadas sobre qual
maternidade procurar na hora de
ter de o bebê. Caso não haja vaga
no hospital indicado, afirma
Adalgisa, existe um serviço público responsável por mapear as maternidades da rede com leitos disponíveis (leia texto ao lado).
Entre a população de gestantes
pesquisada pela enfermeira Rosely, quatro bebês não sobreviveram. Coincidência ou não, todos
eram filhos de mulheres que tiveram de passar por mais de um
hospital. Três apresentaram complicações respiratórias e um nasceu prematuro.
Segundo Ana Cristina Tanaka,
professora do Departamento Materno Infantil da Faculdade de
Saúde Pública da USP, esse índice
é alto- 769 mortes por 100 mil
nascimentos-, semelhante ao de
países africanos.
Pré-natal
A pesquisa avaliou também a
opinião das mulheres sobre o
atendimento nos hospitais onde
houve a recusa de internação.
Cerca de 51% das grávidas que
passaram por mais de um hospital disseram que suas dúvidas não
foram respondidas ou não receberam um diagnóstico.
"Isso gera ansiedade e angústia
e contribui para a peregrinação
dessas mulheres. Quando a gestante não confia no profissional
que a atendeu, procura outro hospital", diz Rosely.
Apesar de preocupantes, os números da pesquisa também apontam uma melhora. Se hoje a maioria das gestantes só encontra uma
vaga no segundo ou terceiro hospital que procuram, há pouco
mais de três anos era comum passar por seis ou sete instituições até
encontrar a porta aberta. Esse dado foi levantado em outra pesquisa realizada por Rosely, em 1998, no Amparo Maternal.
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