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Efetivação do promotor Schoedl é suspensa
Decisão foi tomada ontem pelo Conselho Nacional do Ministério Público; Thales Ferri Schoedl ainda pode recorrer
Enquanto tramitar o processo administrativo aberto pelo conselho, o promotor fica afastado, mas continua a receber salário
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) concedeu ontem uma decisão cautelar que suspende provisoriamente a efetivação no cargo do
promotor de Justiça Thales
Ferri Schoedl, que confessou o
assassinato de Diego Mendes
Modanez em 2004.
A efetivação foi assegurada
pelo Órgão Especial do Colégio
de Procuradores do Ministério
Público de São Paulo na semana passada.
Schoedl, que alega legítima
defesa, pode recorrer da decisão no próprio conselho nacional e no STF (Supremo Tribunal Federal). Enquanto isso, ele
fica afastado das funções, mas
continua recebendo o salário,
de R$ 10,8 mil.
Por decisão unânime, o
CNMP abriu processo administrativo contra a decisão do
Órgão Especial do Ministério
Público de São Paulo de 29 de
agosto, que assegurou o vitaliciamento (efetivação) do promotor por 16 votos contra 15.
Em agosto de 2005, ele chegou a ser exonerado. Posteriormente, obteve decisão do TJ-SP reconduzindo-o ao cargo.
Enquanto esse processo tramitar, a decisão de vitaliciamento ficará suspensa.
O procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Rodrigo Pinho, comemorou a decisão. "Quando os mecanismos
formais falham, a solução é o
controle externo. O corporativismo não pode prevalecer sobre o interesse público."
O promotor pode recorrer ao
STF, que tem competência para julgar recursos contra o
CNMP, órgão de controle externo do Ministério Público da
União e dos Estados.
As medidas tomadas pelo
CNMP foram sugeridas pelo
conselheiro e procurador da
República Nicolao Dino e aprovadas por unanimidade. Segundo Dino, "a concessão de vitaliciedade está vinculada à verificação da conduta pessoal e funcional do membro do Ministério Público".
No julgamento do mérito, o
CNMP decidirá se Schoedl tem
ou não o direito de permanecer
na carreira de promotor, ou seja, se tem a prerrogativa da vitaliciedade, assegurada pela
Constituição a membros do
Ministério Público e juízes.
Schoedl é acusado de matar o
atleta Diego Modanez, que tinha 20 anos, e ferir Felipe Cunha de Souza, em um luau na
praia de Riviera de São Lourenço, em Bertioga (litoral paulista), em 30 de dezembro de
2004. Dos 12 tiros disparados,
sete atingiram as duas vítimas.
O promotor alegou legítima
defesa. Disse que os dois amigos ameaçaram agredi-lo, depois de fazer insinuações sobre
sua namorada. Ele chegou a ser
preso, mas conseguiu autorização judicial para aguardar o julgamento em liberdade.
Processo criminal
A decisão do CNMP será usada pelo advogado da família de
Modanez, Pedro Lazarini, para
tentar mudar o rumo do julgamento criminal de Schoedl. Lazarini, assistente de acusação
no caso, prepara pedido para
que o Tribunal de Justiça suspenda o processo até a decisão
definitiva do CNMP sobre a situação funcional de Schoedl.
Isso porque, como promotor,
ele tem direito de ser julgado
pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça (composto pelo
presidente da instituição, 12
desembargadores mais antigos
e 12 eleitos). Acusados de crime
de morte sem esse foro privilegiado são julgados pelo Tribunal do Júri, composto por sete
representantes da sociedade.
"Existe um clima entre os desembargadores para acatar a
tese de legítima defesa de Thales", diz Lazarini.
O julgamento criminal no órgão especial do TJ ainda não está marcado, mas a previsão é a
de que aconteça em breve, já
que as partes já entregaram
suas alegações finais.
A mãe de Diego Modanez disse ter ficado um "pouquinho feliz" com a decisão do CNMP.
Sonia Modanez, 49, classificou
de "inadmissível" a permanência de Schoedl na Promotoria.
"Era uma vergonha, um tapa
na cara da sociedade esse cara
permanecer nos quadros da
promotoria. Um réu confesso,
era inadmissível."
Para ela, a decisão do CNMP
não é motivo de comemoração.
"A luta é grande ainda. Vamos
ter cautela. O que eu quero é a
Justiça no caso."
Ontem, Sonia esteve em Jales (585 km de SP), onde foi
agradecer pelas manifestações
contrárias à transferência do
promotor para o município.
Colaboraram JOSÉ EDUARDO RONDON , da
Agência Folha, e DANIEL BERGAMASCO , da
Reportagem Local
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