São Paulo, terça-feira, 04 de setembro de 2007

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Um ano após acidente, pai relembra filha em livro

Colisão causada por consumo de álcool matou 5 jovens

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Para atenuar uma dor intraduzível em palavras, o arquiteto Gustavo Padilla se apoiou nelas, as palavras. Ontem, exatamente um ano após ver o corpo de sua filha Ana Clara no canteiro central da av. Borges de Medeiros, na Lagoa (zona sul do Rio), ele lançou "Relato de um Amor" (Nova Fronteira, 160 págs., R$ 25), livro em que expõe os estragos causados pelo acidente que matou cinco jovens de classe média alta.
Ana Clara, 17, estava no banco do carona do carro dirigido pelo namorado, Ivan, 18. No banco de trás, estavam Manoela, 16, e Joana, 17, além de Felipe, 22. Logo após saírem de uma boate, às 5h40, o carro se desgovernou, a 110 km/h, capotou várias vezes e bateu numa árvore. Os cinco morreram.
"Você acordar e sentir que não tem mais um filho é uma devastação. Falta alguém em você todo dia de manhã", diz ele, pai de outros três filhos.
Padilla, 54, resolveu enfrentar situações dolorosas. Escreveu todo o livro no quarto de Ana Clara. "Foi como se ela ainda estivesse comigo, me ajudou muito." Ao lado da mulher e dos pais de Manoela e Joana, cuida do canteiro que cerca a árvore que selou a morte das amigas -representadas por três orquídeas. Ontem, atletas do Vasco, cuja sede náutica fica em frente, fizeram uma oração no local. A prefeitura anunciou que criará ali uma praça.
Para o arquiteto, os nove meses de trabalho no livro ("a gestação de minha filha às avessas", como escreve) o ajudaram a relativizar a sensação de que poderia ter feito algo para impedir a morte da filha.
Ele orientava Ana Clara a não andar com um motorista que tivesse bebido. Ela não tinha álcool no sangue, como mostrou a necropsia, tinha pedido um táxi, mas acabou entrando no carro do namorado.

Livre-arbítrio
"Hoje penso que fiz o máximo que pude. Mais, só se a trancasse dentro de casa, e não é assim que funciona. Da porta de casa para fora, é o livre-arbítrio. Minha filha teve o livre-arbítrio para estar naquele carro. Nessa hora, você espera que o Estado esteja presente. Porque nenhum pai pode ser onisciente."
"Algumas ações começaram a ser feitas, até em razão desse acidente. Mas ainda são tênues. Talvez a Justiça tenha que fazer sua parte. É um absurdo um jovem dirigir embriagado e se recusar a usar o bafômetro. Ele tem que saber que vai passar um dia ou uma noite na cadeia, não importa se é filhinho de papai", afirma.
Apesar do tom, Padilla procura não culpar Ivan. "Era um bom garoto, de boa índole. Estava ao volante com sua inexperiência, a imprudência dos 18 anos, e também se tornou uma vítima. Culpá-lo só vai me levar a mais amargura."

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