São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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Jovens são soltos e policiais, afastados

Renato, 24, William, 28, e Wagner, 25, ficaram dois anos em cela superlotada acusados de violentar e matar garota

Justiça determinou liberdade cinco dias após "maníaco de Guarulhos" confessar morte; eles disseram que sofreram tortura para assumir crime


DA REPORTAGEM LOCAL

Após serem mantidos presos por dois anos em uma cela superlotada sob a acusação de terem violentado sexualmente e assassinado uma garota de 22 anos, Renato Correia de Brito, 24, o seu primo, William César de Brito Silva, 28, e o amigo, Wagner Conceição da Silva, 25, deixaram às 15h40 de ontem o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Guarulhos (Grande São Paulo).
Os três, que dizem só ter assumido o crime após serem torturados por policiais militares e civis, foram soltos por decisão da Justiça cinco dias depois de Leandro Basílio Rodrigues, 19, chamado pelos policiais civis de "maníaco de Guarulhos", ter admitido o assassinato de Vanessa Batista de Freitas, 22, ex-namorada de Renato.
Ontem, a gestão José Serra (PSDB) anunciou o afastamento dos policiais envolvidos na prisão: dois policiais militares e quatro policiais civis (um delegado, um investigador, um escrivão e um carcereiro). Os nomes deles não foram revelados.
À época das prisões, a polícia divulgou que Vanessa havia sido morta porque seu ex-namorado queria evitar uma ação judicial -para requerer pensão alimentícia para o filho- e teria contratado os outros dois para "dar um susto" na moça.

Soltura
Os familiares foram aguardar a saída dos jovens na porta do CDP. "Obrigada, meu Pai, obrigado, meu Deus", gritava a mãe de Wagner, Iraildes Alves Conceição. "Quero ver meu pai, minha mãe. Não tenho palavras. Quero ver minha família. Sofri demais", disse Wagner.
"A única coisa que eu quero é sair daqui o mais rápido possível, abraçar o meu filho e dizer que eu o amo. A única coisa que eu posso dizer a vocês é que eu não sou lixo. Sou ser humano como qualquer um de vocês", disse William aos jornalistas.
Renato preferiu o silêncio. Órfão de pai e mãe, ele chorou no ombro da namorada, Marlândia Nascimento Santos.
Os advogados afirmaram que pretendem entrar com uma ação por danos morais e materiais contra o Estado. Eles afirmam que os três jovens não tinham passagem pela polícia.
Os rapazes ainda irão a júri, em data não definida, porque a ação contra eles não foi extinta com a ordem de soltura.
Em entrevista à TV Globo, Angelina Batista de Freitas Borges, mãe de Vanessa, afirmou que não acredita que o assassino de sua filha seja o "maníaco de Guarulhos". Já o pai de Vanessa, o perueiro João Batista de Freitas Borges, disse que não vai apontar culpados. "A Justiça é quem deve julgar, não eu. Pena que eles [os três soltos ontem] passaram esse tempo todo [na prisão]."
Ele contou que ficou surpreso quando Renato foi apontado como um dos assassinos. "Eu jamais achava que ele ia fazer isso. Mas acreditei porque ele mesmo confessou."

Empurra-empurra
A decisão da Justiça de soltar os três rapazes provocou um jogo de empurra-empurra entre o Ministério Público e o comando da Polícia Civil.
Em entrevista ontem ao lado do secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, o delegado Marco Antonio Dario, responsável pela Corregedoria de Guarulhos, afirmou: "Não estamos jogando a batata quente para ninguém, muito pelo contrário. [...] Somados todos os elementos, eu creio que o Ministério Público, apreciando toda aquela prova produzida, talvez não tenha conferido a devida valoração à alegação de tortura", afirmou o policial.
Já o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, que apresentou a denúncia à Justiça, disse que agiu de acordo com o que recebeu da polícia.
(ANDRÉ CARAMANTE, ROGÉRIO PAGNAN e KLEBER TOMAZ)


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