São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999 |
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DUPLA PORTA Jorge Roberto Pagura - Sou
contrário à dupla porta em setor
público. O país precisa de vaga
para pobre. Há de se equacionar
mecanismos de financiamento. José Aristodemo Pinotti - O
governo nunca deveria ter abdicado da gestão de um hospital público. A segunda porta em hospital público é uma imoralidade.
Tanto é que o Ministério Público
analisou a questão e denunciou à
Justiça. Raul Cutait - Minha preocupação não é com a dupla porta, mas
com o duplo financiamento, que é
importante. Se o setor público
tem dificuldades para se custear,
por que não abrir espaço para
melhorar seu financiamento? Se
no HC a experiência não foi tão
importante, no Incor foi. Com a
criação da Fundação Zerbini
(fundação privada que administra o Incor) e com o duplo financiamento, o hospital ganhou agilidade e conseguiu se equipar melhor e atender melhor todos os
seus doentes. Carlos Alberto Paneagua Ferreira - A Casa de Saúde Santa
Marcelina assinou contrato com o
governo do Estado e há um ano
administra o Hospital Geral do
Itaim Paulista. Lá não há dupla
porta porque foi proibida pela lei
que criou as organizações sociais.
Recebemos pelos serviços prestados ao SUS, e o restante do financiamento vem do poder público.
A dupla porta poderia favorecer o
financiamento, permitindo que o
dinheiro vindo do Estado fosse
utilizado para outras ações. Pinotti - Mas o Itaim teria uma
segunda porta. O governador
mandou para a Assembléia um
projeto regulamentando as organizações sociais dos cinco hospitais que entregou a instituições
privadas. A Assembléia negou e
proibiu a segunda porta. Isso está
causando um problema sério para o Santa Marcelina. Hospital filantrópico, ao contrário do público, deve ter atendimento privado
para sobreviver. ALTERNATIVAS Pinotti - A segunda porta deveria realmente ser substituída pelo
segundo financiamento, sem o
atendimento diferenciado. Há
quatro alternativas que permitem
isso: 1) os hospitais públicos devem cobrar dos convênios o atendimento de doentes conveniados,
que normalmente procuram tratamentos complexos. Esses pacientes representam cerca de 15%
nos hospitais públicos; 2) o governo deve aumentar entre 3% e 4%
o orçamento para esses hospitais;
3) os recursos das fundações devem ser melhor utilizados. A Fundação Faculdade de Medicina fez
uma compra totalmente desnecessária de um prédio da Febem e
poderia ter usado esse dinheiro
para financiar o custeio do hospital em vez de abrir segunda porta;
4) estimular a ajuda financeira
por parte do terceiro setor (sociedade civil, instituições filantrópicas e privadas). Pagura - Complementando as
alternativas, uma quinta forma de
duplo financiamento seria a utilização dos recursos do DPVAT
(Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores
de Via Terrestre), que constitui
uma das maiores falcatruas que
existem no país. Esse dinheiro está saindo pelo ralo e poderia substituir a dupla porta. FILANTROPIA Ferreira - A lei das filantrópicas,
que está suspensa momentaneamente, não resultou em nada para
nós. A Casa de Saúde Santa Marcelina atende 92% de pacientes do
SUS, muito mais do que prevê a
lei. E, mesmo assim, vive com um
déficit mensal de R$ 1,1 milhão
por causa das tabelas aviltadas pela defasagem de preço, corroídas
pela inflação. Pagura - Quando se faz filantropia, há de se ter primeiro a definição do que a sociedade precisa. Isso quem deve definir são as autoridades que traçam programas de
saúde. Existem algumas distorções que precisam ser corrigidas.
Hospitais privados que recebem
isenção de alíquotas para a compra de aparelhos sofisticados, como o de ressonância magnética,
deveriam ser obrigados a fornecer
exames de ressonância magnética
a pacientes do SUS, por exemplo. Pinotti - Tenho grande preocupação em redefinir a questão da
filantropia. A redefinição que foi
feita por lei é pobre. Há uma
emenda tramitando no Congresso que propõe outra forma de
ajustar o critério de filantropia.
Ela propõe que a entidade tenha
um percentual de isenção igual ao
que a entidade fatura do SUS. Se a
entidade fatura do SUS 20% do
seu orçamento em relação ao seu
orçamento privado ou conveniado, tem 20% de desconto, e assim
por diante. Essa é uma forma adequada de graduar a filantropia. |
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