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ESCRAVIDÃO
Dez lavradores dizem ter trabalhado sem receber salário e sofrido ameaças de morte de fazendeiro brasileiro
Gaúchos fogem de fazenda na Venezuela
ANDRÉA DE LIMA
DA AGÊNCIA FOLHA
Dez lavradores gaúchos fugiram
de uma fazenda na Venezuela,
onde trabalhavam sem receber
salário. Eles relataram maus-tratos, falta de alimentação e ameaças de morte. A fuga deles ocorreu
na última quarta-feira à noite.
Depois de andar 50 quilômetros
pelo meio das lavouras de milho e
feijão, e sob guarida de fazendeiros venezuelanos, o grupo foi recebido pelo vice-cônsul do Brasil
em Puerto Ordaz (Venezuela),
que os enviou de ônibus até Boa
Vista (RR). Outros três brasileiros
permanecem na fazenda.
Desde sexta-feira, os agricultores são mantidos num abrigo em
um estádio, na capital de Roraima, sob proteção da Polícia Federal. "Não podemos revelar o local,
já que eles estão sofrendo ameaças por parte do fazendeiro que os
contratou no Rio Grande do Sul",
disse o secretário-executivo da
Defesa Civil estadual, capitão Kleber Gomes.
A Corregedoria Regional da Polícia Federal está analisando o caso e vai decidir pela abertura ou
não de um inquérito para apurar
as denúncias de cárcere privado e
trabalho escravo.
Anteontem, os dez lavradores
prestaram depoimento na superintendência da PF em Boa Vista.
"Como o caso envolve brasileiros no exterior, nosso departamento jurídico vai analisar as atribuições de investigação", afirmou
o superintendente interino da PF,
Dolival Corrêa.
A oferta pelo trabalho na lavoura de milho, na fazenda Los Flanerrone, em El Tigre (Venezuela),
era de um salário de US$ 420 por
mês para cada um. O gaúcho Carlos Santana, 34, de Ijuí, disse que
trabalhou na fazenda um ano e
meio e não recebeu nada.
Ele afirmou que a jornada de
trabalho era de 18 horas diárias.
Como não recebia salário e a comida estava racionada, pediu demissão no último dia 15.
Ele disse ter sido ameaçado de
morte, com arma de fogo, pelo fazendeiro e pelo filho dele, que
também são gaúchos.
Ele viajou para a Venezuela de
ônibus em companhia da mulher
e de dois filhos, uma garota de 16
anos e um menino de 11. Também
viajaram outras nove pessoas, das
cidades gaúchas de Ijuí, Jóia e Augusto Pestana.
A família de Carlos dividia um
alojamento na fazenda com outras nove pessoas. As mulheres
trabalhavam na sede da propriedade. Eram responsáveis pela
limpeza e cozinha. Por isso, receberam proposta salarial mensal
de US$ 180, mas dizem que nunca
foram pagas.
Segundo Carlos, outros três brasileiros permaneceram na fazenda. "Os patrões diziam que quem
estivesse descontente podia ir embora, a pé, sem direito a nada. Então fugimos."
O chefe da Casa Civil do governo do Rio Grande do Sul, Gustavo
de Mello, afirmou que foi informado do caso.
"Já solicitei a lista com os nomes
dos integrantes do grupo e uma
declaração de que eles desejam retornar às suas cidades de origem,
para poder tomar providências",
afirmou.
O cônsul venezuelano em Roraima, Luis Medina, disse que
conversou com os lavradores.
"Pedi informações às autoridades
brasileiras para encaminhar esses
dados aos ministérios da Justiça,
de meu país, e das Relações Exteriores, em Brasília."
Segundo ele, a fazenda de mil
hectares foi arrendada pelo brasileiro Eguimar Strohschein. Ele
não soube informar se haveria telefone na fazenda.
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