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Câncer mata mais rápido no país, diz estudo
Pesquisa analisou dados sobre 4 tipos da doença em 31 países; Brasil está entre os piores em ranking de sobrevida ao câncer
Foram usados diagnósticos de 1,9 milhão de pessoas entre 1990 e 1995; especialista ressalta comparação de Brasil com países desenvolvidos
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
O câncer mata mais rápido
no Brasil do que em países desenvolvidos, afirma pesquisa
britânica inédita. O baixo número de brasileiros que sobrevivem por pelo menos cinco
anos após o diagnóstico colocou o país nas últimas posições
do ranking de sobrevida de
quatro tipos de câncer.
Coordenada pelo epidemiologista britânico Michel Coleman, da London School of
Hygiene and Tropical Medicine, a pesquisa analisou dados
sobre tumores de mama, próstata, cólon e reto diagnosticados entre 1990 e 1995 em 1,9
milhão de pessoas de 31 países.
Inédito pela abrangência, o
estudo mostrou que regiões de
alto grau de desenvolvimento,
como Estados Unidos, Canadá,
Japão e Europa Ocidental têm
taxas de sobrevida bem superiores às verificadas no Leste
Europeu, no Brasil e na Argélia
(único representante africano,
que apresentou as piores taxas
em todos os tipos de câncer).
Cuba, que ao lado do Brasil é
o único latino-americano no
estudo, foi a exceção. Seu bom
desempenho, porém, pode estar superestimado devido a
problemas com a qualidade dos
dados fornecidos, diz Coleman.
No caso do câncer de mama,
a taxa de sobrevida variou de
38,8% a 84% nos diferentes
países. O Brasil ficou na 29ª posição, com 58,4%. A variação
também foi bastante ampla no
câncer de próstata (de 21,4% a
91,9%), cólon (de 30,6% a
61,4% entre as mulheres e de
11,4% a 63% entre homens) e
reto (de 18,2% a 63,9% entre as
mulheres e de 25,9% a 59,2%
entre os homens). Em quase todos os casos, o Brasil está entre
os dez últimos colocados.
Para o diretor-geral do Inca
(Instituto Nacional do Câncer),
porém, o desempenho brasileiro não é tão ruim. "A pesquisa
compara o Brasil basicamente
com países de alto desenvolvimento", diz Luiz Santini.
Outro ponto que pode ter
prejudicado o desempenho do
país é a precariedade de informações sobre os casos da doença. Segundo Sergio Koifman, da
Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, que participou
do estudo, no caso brasileiro foram utilizados dados de apenas
1.723 pacientes das cidades de
Campinas e Goiânia, as duas
únicas que mantinham registros da doença dentro dos padrões necessários para a comparabilidade internacional.
Ele diz, porém, que o mau desempenho não pode ser atribuído apenas à questão dos dados. "O Brasil enfrenta problemas de diagnóstico tardio que
diminuem muito a sobrevida."
Para Célia Tosello, responsável pela oncologia clínica do
IBCC (Instituto Brasileiro de
Controle do Câncer), a demora
para o diagnóstico está ligada à
questão cultural e à falta de
preparo de profissionais.
"Infelizmente, grande parte
da população não dá a devida
atenção à saúde. Muitos preferem se automedicar", diz.
Gulnar Azevedo, do IMS
(Instituto de Medicina Social
da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro), destaca ainda
que a sobrevida no Brasil também é prejudicada pelo intervalo entre diagnóstico e tratamento. "Muitos são diagnosticados no início da doença, mas
precisam esperar na fila."
Todos dizem acreditar que o
desempenho brasileiro vá melhorar na próxima pesquisa,
com casos diagnosticados entre
1995 e 2005. Além da incorporação dos registros de outras cidades, devem pesar as melhorias recentes no acesso ao diagnóstico e ao tratamento.
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