UOL


São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"É preciso investir em inteligência"

DA REPORTAGEM LOCAL

Os ataques contra a PM e a GCM, embora coordenados, não tiveram alto nível de sofisticação e reforçam a necessidade de investimentos no setor de inteligência. A opinião é de Guaracy Mingardi, pesquisador do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente).
"A inteligência criminal não tem tido relevância hoje. Os governos não investem porque são medidas a longo prazo", afirma. Ele teme que esse tema seja confundido com as ações do Gradi (grupo da PM que recrutava presos para infiltrá-los ilegalmente em quadrilhas). "Essas ações só aumentaram a animosidade e mataram ladrões de terceiro escalão", diz Mingardi, para quem há uma tendência de as polícias agirem com mais violência por conta da ousadia dos criminosos.
Luciana Guimarães, diretora do Instituto Sou da Paz, chama a atenção para os ataques que atingiram bases comunitárias. "É preciso reafirmá-las como ações importantes. Coisas eficientes viram alvos fáceis. Não se pode recuar, é preciso ampliá-las", diz.
"A escolha do alvo é inesperada. Mas é preciso mapear rapidamente as ações para aprender com as estratégias do crime organizado. Ignorar a existência dele não adianta", afirma Guimarães.
Paulo de Mesquisa Neto, secretário-executivo do Instituto São Paulo Contra a Violência, diz que a "reação dos policiais" diante dos ataques vai depender da "sinalização política" dos comandantes.
A entidade é responsável pelo disque-denúncia e diz ter recebido uma ligação ontem de manhã com pistas do grupo que fez os ataques. O telefone do serviço -que garante anonimato- é 0800-156315 para quem está na capital paulista e 0/xx/11/3272-7373 para as demais regiões.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PTB-RJ) prega a expansão da violência policial contra os grupos organizados. "Tem que responder na mesma moeda. O marginal só conhece uma lei: olho por olho, dente por dente. Não se pode raciocinar antes de atirar. A polícia tem que ser violenta e temida", afirma. "Os policiais hoje são muito criticados pela mídia. Uma minoria acaba indo para a vingança [contra os ladrões], coisa que eu acho favorável, mas a maioria se acomoda por causa da pressão", diz Bolsonaro.
O monsenhor Dario Benedito Bevilacqua, porta-voz da Arquidiocese de São Paulo, condena essa visão. "O caminho não está no revide nem na retaliação."
Para ele, as medidas de combate aos criminosos passam pelas questões sociais.


Texto Anterior: Ações reforçam presença na Baixada Santista
Próximo Texto: SP 450: Mercadão já foi quartel de revolucionários
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.