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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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ABASTECIMENTO

Apesar da marca atingida, gerente da Sabesp diz que prefere esperar que temporada de chuvas eleve nível do sistema

"5% no Cantareira é sinal quase vermelho"

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há um "gatilho" para que a Sabesp (companhia de saneamento de SP) decrete racionamento nas áreas abastecidas pelo sistema Cantareira. Mas o fato de ele ter atingido ontem a marca histórica de 5% da capacidade é "quase um sinal vermelho", diz o gerente da Divisão de Hidrologia e Proteção de Recursos Hídricos da empresa, Hélio Luiz Castro.
Há um mês, a empresa afirmava que captar água além dos 5%, apesar de possível, não era desejável, pois significaria esvaziar demais o Cantareira e poderia implicar racionar água em 2004, para garantir que ele enfrentasse a estiagem de abril a setembro.
"Se em novembro não chover, fica mais difícil recuperar, mas fazer racionamento no Cantareira significa deixar 9 milhões de pessoas na capital e Grande São Paulo sem água. São duas cidades de Salvador. Imagine fazer manobras [para abrir e fechar válvulas] todos os dias", diz Castro.
Ele afirma que "não se faz racionamento por precaução" no período chuvoso. "Imagine se chove um monte em janeiro, fevereiro. Isso na maioria das vezes não aconteceu, mas é uma possibilidade. Se [o racionamento] é uma coisa que se faz agora ou no ano que vem, então arriscamos agora e, se [o sistema] não se recuperar, fazemos uma coisa mais amena no ano que vem", pondera.
À questão do desgaste político que seria cortar água num ano eleitoral, o presidente da Sabesp, Dalmo Nogueira, responde que se orienta por critérios técnicos. "Se precisarmos cortar e não cortarmos, prejudicaremos o próprio governo." Castro diz que a Sabesp optou por correr um risco calculado com o Cantareira, apostando tanto na chuva como em ações que poupem o sistema. "Estamos tranquilos", afirma, apesar de especialistas já terem manifestado preocupação com o quadro atual.
Desde junho, a produção de água do Cantareira por segundo, para a Grande SP, foi reduzida em 2.000 l porque parte da área do sistema pôde ser servida pelas represas Alto Tietê, Rio Grande e Guarapiranga. É possível ainda liberar menos água para a bacia do Piracicaba (região de Campinas) quando chove na região. O Cantareira manda de 3.000 l/s a 5.000 l/s para o interior, mas, como também serve para controlar cheias, se chove na bacia do Piracicaba, a remessa não é necessária e pode até causar ou agravar enchentes.
O volume liberado é determinado pela Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico do Comitê das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, do qual participam a Sabesp, o governo estadual, as prefeituras e representantes dos setores industrial e agrícola.
Segundo Castro, a Sabesp tem três cenários: um pessimista, um otimista e um intermediário -e mais provável-, que prevê que o Cantareira chegará em abril de 2004 com cerca de 40% de seu volume total. Nesse caso, não seria necessário o racionamento.


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