São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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ANÁLISE

Estatísticas ignoram vários fatores

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A cada feriado, a Polícia Rodoviária Federal e Secretarias Estaduais de Transportes divulgam suas estatísticas de mortes nas estradas.
O resultado tende a ser uma lambança, com números que variam enormemente, sugerindo desde um trânsito que ruma para padrões civilizados até a materialização do genocídio sobre rodas.
A razão para tamanha discrepância está no fato de que não faz muito sentido estatístico comparar as mortes de um feriado prolongado com sua edição do ano anterior (ou um substituto "semelhante").
Períodos assim curtos são fortemente influenciados por fatores aleatórios, que mudam bastante as características de cada termo da comparação, a ponto de torná-la um cotejo de alhos com bugalhos.
Até imponderáveis como a previsão do tempo nos dias que antecedem o feriado têm impacto na decisão das pessoas de viajar ou deixar de fazê-lo. Determinadas datas, como o Carnaval, ainda ganham o condimento das libações alcoólicas, com efeitos arquiconhecidos.
Como se não bastasse, o número de óbitos, que costuma ficar na casa das dezenas, pode sofrer grandes variações percentuais por conta de um único acidente que envolva múltiplas vítimas. Por exemplo: um engavetamento que tivesse matado oito pessoas -evento que não chega a ser extraordinário-, teria representado um salto de 18% no total de óbitos registrados nas estradas estaduais de São Paulo durante o Finados.
Essa mania de comparar mortes em feriados é ainda mais exótica quando se considera que existem à disposição dados de muito melhor qualidade, como o total de óbitos verificados ao longo do ano ou dos últimos 12 meses. Séries mais longas servem justamente para anular ou ao menos reduzir o peso do contingente.


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