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ANÁLISE
Estatísticas ignoram vários fatores
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A cada feriado, a Polícia Rodoviária Federal e Secretarias
Estaduais de Transportes divulgam suas estatísticas de
mortes nas estradas.
O resultado tende a ser uma
lambança, com números que
variam enormemente, sugerindo desde um trânsito que ruma
para padrões civilizados até a
materialização do genocídio
sobre rodas.
A razão para tamanha discrepância está no fato de que não
faz muito sentido estatístico
comparar as mortes de um feriado prolongado com sua edição do ano anterior (ou um
substituto "semelhante").
Períodos assim curtos são
fortemente influenciados por
fatores aleatórios, que mudam
bastante as características de
cada termo da comparação, a
ponto de torná-la um cotejo de
alhos com bugalhos.
Até imponderáveis como a
previsão do tempo nos dias que
antecedem o feriado têm impacto na decisão das pessoas de
viajar ou deixar de fazê-lo. Determinadas datas, como o Carnaval, ainda ganham o condimento das libações alcoólicas,
com efeitos arquiconhecidos.
Como se não bastasse, o número de óbitos, que costuma ficar na casa das dezenas, pode
sofrer grandes variações percentuais por conta de um único
acidente que envolva múltiplas
vítimas. Por exemplo: um engavetamento que tivesse matado
oito pessoas -evento que não
chega a ser extraordinário-,
teria representado um salto de
18% no total de óbitos registrados nas estradas estaduais de
São Paulo durante o Finados.
Essa mania de comparar
mortes em feriados é ainda
mais exótica quando se considera que existem à disposição
dados de muito melhor qualidade, como o total de óbitos verificados ao longo do ano ou dos
últimos 12 meses. Séries mais
longas servem justamente para
anular ou ao menos reduzir o
peso do contingente.
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