São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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RETRATO DO BRASIL

No ensino fundamental, filho de família rica tem melhor aproveitamento do que estudante de origem pobre

Expansão do ensino não reduz desigualdade

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Dados divulgados ontem pelo IBGE, em relatório elaborado em conjunto com o Fundo de População das Nações Unidas sobre a situação da pobreza no Brasil e no mundo, mostram que, apesar dos avanços, a desigualdade ainda persiste no país, mesmo em áreas onde se pensava que elas estivessem perto do fim.
É o caso do ensino fundamental, destinado a crianças de 7 a 14 anos. Apesar de 96,5% da população desta faixa etária estar matriculada, a diferença no rendimento escolar entre os mais pobres e mais ricos ainda é grande.
Aos sete anos, 18,7% das crianças que vivem em famílias mais pobres (renda per capita mensal familiar inferior a meio salário mínimo) frequentam série inferior à indicada para a sua idade. Entre as crianças mais ricas (renda per capita mensal familiar superior a dois salários mínimos), são 9,3%.
Aos 14 anos, a desigualdade é ainda mais evidente, com 85,1% das crianças mais pobres estudando em séries defasadas em relação à idade ideal, contra apenas 29,6% dos alunos mais ricos.
Em outros níveis de ensino, a desigualdade também é evidente. Analisando apenas a população entre 18 e 24 anos, o IBGE verificou que, entre os mais pobres, apenas 2,1% estavam matriculados no nível superior. Entre os mais ricos na mesma idade, a porcentagem chega a 60,9%.
"O Brasil tem 500 anos de tradição de não conseguir usar políticas públicas para conseguir equidade. Nosso sistema educacional também é desenhado para produzir essa equidade. Não temos uma escola para pobre que funcione. Lidar com equidade significa dar mais para quem tem menos", afirma João Batista Araújo e Oliveira, consultor da área de educação e ex-secretário executivo do Ministério da Educação.
O acesso a creche e pré-escola também é diferenciado de acordo com a classe social. Entre os 20% mais pobres, 26,5% das crianças de 0 a 6 anos estavam matriculadas. Entre os 20% mais ricos, a taxa é quase o dobro: 48,8%.

Saneamento
Além de indicadores de educação, o instituto fez cruzamentos com dados de acesso a serviços de saneamento e de diferenças entre raças para traçar um perfil da pobreza no Brasil.
"Ser pobre não é só ter renda menor. Significa também não ter acesso a serviços básicos como saúde, educação e saneamento", afirma Bárbara Soares, técnica do departamento de população e indicadores sociais do IBGE.
Em todo o país, apenas 31,6% dos que vivem com até meio salário mínimo de renda familiar per capita estão em residências com serviços de saneamento adequados. Entre os mais ricos, a porcentagem chega a 85,7%.
O cruzamento de dados sobre saneamento revela ainda uma desigualdade regional, mesmo entre os grupos mais pobres. No Nordeste, a porcentagem de pessoas pobres com acesso a serviços de saneamento é de 21,6%. No Sudeste, o percentual é de 55,8%.
Com base na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar) de 2000, o IBGE mostrou que a renda da população que declarou ter cor branca (R$ 757) é praticamente o dobro da renda dos negros (R$ 383) ou pardos (R$ 375).


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