|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATO DO BRASIL
No ensino fundamental, filho de família rica tem melhor aproveitamento do que estudante de origem pobre
Expansão do ensino não reduz desigualdade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Dados divulgados ontem pelo
IBGE, em relatório elaborado em
conjunto com o Fundo de População das Nações Unidas sobre a
situação da pobreza no Brasil e no
mundo, mostram que, apesar dos
avanços, a desigualdade ainda
persiste no país, mesmo em áreas
onde se pensava que elas estivessem perto do fim.
É o caso do ensino fundamental,
destinado a crianças de 7 a 14
anos. Apesar de 96,5% da população desta faixa etária estar matriculada, a diferença no rendimento escolar entre os mais pobres e
mais ricos ainda é grande.
Aos sete anos, 18,7% das crianças que vivem em famílias mais
pobres (renda per capita mensal
familiar inferior a meio salário
mínimo) frequentam série inferior à indicada para a sua idade.
Entre as crianças mais ricas (renda per capita mensal familiar superior a dois salários mínimos),
são 9,3%.
Aos 14 anos, a desigualdade é
ainda mais evidente, com 85,1%
das crianças mais pobres estudando em séries defasadas em relação à idade ideal, contra apenas
29,6% dos alunos mais ricos.
Em outros níveis de ensino, a
desigualdade também é evidente.
Analisando apenas a população
entre 18 e 24 anos, o IBGE verificou que, entre os mais pobres,
apenas 2,1% estavam matriculados no nível superior. Entre os
mais ricos na mesma idade, a porcentagem chega a 60,9%.
"O Brasil tem 500 anos de tradição de não conseguir usar políticas públicas para conseguir equidade. Nosso sistema educacional
também é desenhado para produzir essa equidade. Não temos uma
escola para pobre que funcione.
Lidar com equidade significa dar
mais para quem tem menos",
afirma João Batista Araújo e Oliveira, consultor da área de educação e ex-secretário executivo do
Ministério da Educação.
O acesso a creche e pré-escola
também é diferenciado de acordo
com a classe social. Entre os 20%
mais pobres, 26,5% das crianças
de 0 a 6 anos estavam matriculadas. Entre os 20% mais ricos, a taxa é quase o dobro: 48,8%.
Saneamento
Além de indicadores de educação, o instituto fez cruzamentos
com dados de acesso a serviços de
saneamento e de diferenças entre
raças para traçar um perfil da pobreza no Brasil.
"Ser pobre não é só ter renda
menor. Significa também não ter
acesso a serviços básicos como
saúde, educação e saneamento",
afirma Bárbara Soares, técnica do
departamento de população e indicadores sociais do IBGE.
Em todo o país, apenas 31,6%
dos que vivem com até meio salário mínimo de renda familiar per
capita estão em residências com
serviços de saneamento adequados. Entre os mais ricos, a porcentagem chega a 85,7%.
O cruzamento de dados sobre
saneamento revela ainda uma desigualdade regional, mesmo entre
os grupos mais pobres. No Nordeste, a porcentagem de pessoas
pobres com acesso a serviços de
saneamento é de 21,6%. No Sudeste, o percentual é de 55,8%.
Com base na Pnad (Pesquisa
Nacional de Amostra Domiciliar)
de 2000, o IBGE mostrou que a
renda da população que declarou
ter cor branca (R$ 757) é praticamente o dobro da renda dos negros (R$ 383) ou pardos (R$ 375).
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: País tem mais grávidas jovens Índice
|