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SAÚDE
Possível indicação de Jatene para ministério é criticada
Grupos querem que o novo governo priorize a descentralização de ações
FABIANE LEITE
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas do anúncio do nome
que comandará o Ministério da
Saúde, médicos, sanitaristas, pesquisadores, militantes e políticos
da esquerda se movimentam para
que as teses do SUS, especialmente a descentralização e municipalização, prevaleçam no novo governo petista.
O SUS (Sistema Único de Saúde), criado na Constituição de 88,
estabelece a municipalização dos
serviços, com os Estados agindo
complementarmente e a coordenação das políticas pelo Ministério da Saúde.
Para os vários sanitaristas ouvidos pela Folha, a implantação do
sistema vem sofrendo pela lentidão e por desvios patrocinados
por todos os últimos ministros da
Saúde. Um deles é o "campanhismo" e a fragmentação de programas, como a destinação de recursos a campanhas de catarata, varizes, hérnias, prevenção do câncer,
entre outras ações. "Foram criadas mais de 80 formas de repassar
dinheiro ao municípios", diz o
médico Gilson Carvalho, especialista em saúde pública que foi secretário nacional da Assistência à
Saúde durante o governo de Itamar Franco.
A criar tantos mecanismos de
repasse, o ministro da Saúde
mantém as rédeas de todo o sistema, justamente o contrário do
que prega o SUS.
"As pessoas adoecem e buscam
atendimento no município, o
processo saúde-doença e a prevenção ocorrem onde as pessoas
vivem e trabalham. Temos de inverter a lógica secular da estrutura
ministerial centralizada de "ditar
as normas" para serem cumpridas
pelos Estados e municípios", afirma um manifesto assinado por
mais de setenta gestores municipais de saúde, políticos, trabalhadores, docentes da área e pesquisadores. O documento é encabeçado pela secretária da Saúde de
Amparo, Aparecida Pimenta, e foi
entregue à equipe de transição.
Membros de universidades, servidores públicos e políticos reunidos no Cedec (Centro de Estudos
de Cultura Contemporânea), de
São Paulo, também fecharam um
documento recentemente em
que, além de defenderem o fim da
fragmentação, sugerem a aprimoração de mecanismos de avaliação dos programas do ministério,
a busca de mais recursos (como o
fim da renúncia fiscal para os planos de saúde), além do repasse de
verba segundo critérios demográficos.
A principal preocupação de alguns dos sanitaristas é a de que o
nome indicado para o ministério
puxe o freio da implantação do
SUS, seguindo a tendência dos
ministros anteriores.
O Ministério da Saúde é uma
pasta importante para o PT porque será vitrine de comparação
com o governo tucano, alerta o
documento elaborado no Cedec.
O ex-ministro da Saúde José Serra
usou a saúde como sua bandeira
na campanha eleitoral deste ano.
A discussão sobre nomes para a
pasta já foi tema em pelo menos
dois encontros, um de militantes
do setor de saúde bucal, em São
Paulo, no fim de novembro, e o
outro, no Rio, do conselho político da Abrasco, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
Entre os nomes cotados do lado
petista e aliados de esquerda estão
os secretários municipais Eduardo Jorge, de São Paulo, e Gastão
Wagner, de Campinas; o estadual
do Rio de Janeiro, Leôncio Feitosa, além de Humberto Costa, que
coordena a área de saúde na equipe de transição.
A preocupação é o nome do cirurgião Adib Jatene, ex-ministro
da Saúde nos governos Collor e
Fernando Henrique. Apontado
como o preferido de Lula, Jatene
pregou, em vários momentos, o
que os sanitaristas petistas chamam de "desvios graves": ele defende o pagamento dos serviços
de saúde por parte daqueles que
podem -acabando com a universalidade do SUS-, e o atendimento de pacientes privados em
espaços públicos, prática que implantou no Instituto do Coração.
"Parece-nos necessário, sobretudo, afirmar nossa desaprovação
enfática à tese de "aproveitar" no
ministério de Lula algum ex-ministro de Collor", diz o texto aprovado em novembro por mais de
50 militantes da saúde bucal.
Procurado, Jatene disse que o
"momento é de ficar calado".
Planos de saúde
Qualquer nome comprometido
com o SUS que vier a assumir deverá desmontar a ANS, Agência
Nacional de Saúde Suplementar,
incorporando-a ao Ministério da
Saúde, prevêem os sanitaristas.
Criada para se ocupar dos planos
e seguros de saúde, a ANS legisla
com um amontoado de portarias
e não trata dos planos coletivos
-que representam 70% dos quase 40 milhões de brasileiros atendidos por esse sistema.
"Os planos de saúde deverão ser
regidos dentro da lógica do SUS",
diz Mário Scheffer, representante
dos usuários no Conselho Nacional de Saúde.
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