São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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Polícia vê proteção a acusado de pedofilia

Autoridades do PA atuaram ilegalmente a favor de empresário suspeito de abusos sexuais de meninas, diz investigação

Segundo o inquérito, foram mobilizados 1 juiz, 1 deputado, 1 delegado, 1 jornalista e 2 advogados de políticos


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM

Investigações da Polícia Civil do Pará indicam que autoridades do Estado atuaram para proteger, de forma ilegal, um empresário indiciado sob acusação de pedofilia.
Antonio Carlos Vilaça, 56, é dono de um conglomerado de empresas de construção civil, mineração e transporte.
Vilaça nega todas as acusações, segundo seu advogado.
Inquérito sob segredo de Justiça, ao qual a Folha teve acesso, diz que o empresário mobilizou um deputado, um juiz e um delegado, além de advogados de políticos e uma jornalista, para tentar manipular a investigação.
Esse grupo, segundo a polícia, coagiu testemunhas, vazou informações sigilosas, pressionou uma juíza e traficou influência para tentar barrar a repercussão do caso.
O inquérito, baseado em interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e feitas de novembro de 2009 a julho deste ano, apurou a suposta relação entre Vilaça e cinco meninas e adolescentes dos municípios de Barcarena e Abaetetuba.
Mas as gravações mostraram, segundo a polícia, autoridades do Pará tentando livrar o empresário de uma suspeita anterior: ter abusado de três meninas de Belém.

OS GRAMPOS
Com base nas conversas, a polícia concluiu que o delegado Edivaldo Lima foi subornado para retardar a investigação. Após o inquérito passar para uma delegada, Vilaça chegou a ser preso, em abril -hoje, está solto. Lima nega as acusações e afirma que nunca investigou Vilaça.
Segundo a interpretação dos grampos feita pela polícia, um dos principais articuladores da proteção a Vilaça foi Wladimir Costa (PMDB), o Wlad, deputado federal que se reelegeu neste ano.
As gravações mostram o deputado conversando com interlocutores sobre a necessidade de convencer a mãe de uma das vítimas a desmentir sua própria versão.
Os grampos também apontam que Wlad ajudou a "vazar" para Vilaça a informação sobre ordem de prisão contra o empresário, em abril. Com isso, Vilaça ficou foragido por uma semana.
O deputado, segundo a polícia, foi ajudado por Inocêncio Mártires Coelho e João Neri, advogados da coligação eleitoral da governadora Ana Júlia Carepa (PT).
Outro suposto elo do grupo no Judiciário é o juiz criminal Carlos Alberto Flexa.
Usando o celular do próprio empresário, Flexa ligou, dias antes da ordem de prisão, para a juíza que cuida do caso. Segundo a polícia, sua intenção era influenciá-la a não mandar prender Vilaça.
Uma repórter do jornal "O Liberal", de Belém, foi indiciada -como todos os outros, exceto Wlad e Flexa, que têm foro privilegiado no STF (Supremo Tribunal Federal) e no Tribunal de Justiça, respectivamente, nos quais são investigados.
Os grampos apontam que Micheline Oliveira participou de tentativa de extorquir R$ 100 mil de Vilaça pela não publicação do caso e depois lhe passou informações.


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