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foco
Praia da Baleia é dividida entre luxo de condomínios e improviso de visitantes
WILLIAN VIEIRA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO SEBASTIÃO
"Olha o queijo quente", gritava o vendedor Leonardo
Santos, 21, a brasa pendurada
na mão, feliz com os 132 queijos vendidos no lado esquerdo da praia da Baleia, em São
Sebastião (SP) -pois no lado
direito, o público abriu mão
do petisco. "Daqui para lá
vende bem, daqui para lá, nenhum. Acho que madame não
gosta de queijo."
É que há, nas duas metades
da praia, separada praticamente no meio dos seus 2,4
km, dois públicos e dois jeitos
de aproveitar uma das mais
limpas e caras faixas de areia
do litoral norte de São Paulo.
Se do lado direito de quem vê
o mar os condomínios "loteiam" o espaço da praia (com
guarda-sóis e toldos), no esquerdo, quem não tem casa
na região estende as cangas
no chão, come ali mesmo e fica sem banheiro o dia inteiro.
São 15h de sábado, e o sol
rompe as nuvens, refletindo-se nas piscinas onde nadam
os moradores dos condomínios: são 36, segundo a Sabaleia (Associação Amigos do
Bairro Praia da Baleia), a
maioria no lado direito, vazio
a despeito do calor e da infraestrutura pronta -18 toldos brancos com até dez cadeiras cada um, fora 40 guarda-sóis, tudo vazio.
"O pessoal aqui vai almoçar
e nem volta mais, fica em casa", diz o funcionário, guardando as cadeiras para devolver ao depósito do condomínio. No dia seguinte, chegará
às 7h e montará tudo novamente para garantir o conforto dos condôminos.
"Tem que montar cedo, senão o condômino, que pagou
caro por uma residência na
praia, na hora em que for
aproveitar, não vai ter espaço", diz Eduardo Nunes, coordenador operacional da Sabaleia, que mantém 36 funcionários para cuidar da segurança, do lixo e até da montagem do guarda-sol. "Mas não
estamos ainda como o Guarujá, onde tem que montar tudo
às 4h30, senão o turista de
um dia vem e toma tudo."
Bem público
Em outubro de 2008, a Justiça Federal proibiu os condomínios da praia de Astúrias, no Guarujá (SP), a cerca
de 100 m de São Sebastião, de
colocar guarda-sóis na praia
para reservar espaço. "As
praias são bens públicos de
uso comum", escreveu a juíza
Alessandra Aranha.
Mas a decisão só vale para
Astúrias. Assim, de sunga a
poucos metros de casa, o empresário Vitor Kindi, 50,
aproveitava o mormaço sob o
toldo do condomínio na Baleia. "Comprei a casa aqui
porque a praia é a tranquila e
não tem comércio. Do resto, a
Sabaleia cuida", diz, satisfeito
com a comodidade.
"A imagem da praia da Baleia é de uma praia limpa, organizada e segura. E isso acaba atraindo outras pessoas",
diz Nunes, da Sabaleia, explicando que "o público da Baleia tem mudado nos últimos
dez anos". É que, de paraíso
escondido, a praia tem caído
no gosto de turistas.
"Aqui é como se fosse uma
praia privada, e nós, os penetras, não temos como concorrer com os condomínios", reclamava a tecnóloga Elizete
Rezende, 35, que caminhou
200 metros no lado esquerdo
da praia até encontrar um espaço para fincar o guarda-sol.
"Nós somos caras-de-pau e ficamos aqui mesmo", diz o
amigo Ovídio Marques Dias,
42. Ele se lembra de quando
vinha com a família, há 25
anos, "e fazia literalmente
aquela farofada".
Tanto quem vem de Bertioga quanto de Caraguatatuba
não verá placa nenhuma indicando a Baleia -nem no trevo que leva, à direita, à Barra
do Sahy e, à esquerda, à Baleia. Só após cruzar a ponte de
madeira (que range à passagem do carro) e ver casas de
luxo nos dois lados da estrada
o turista saberá onde está. "É
escondidinha, porque, se divulgar, atrai farofeiro", diz Lilian Souza, 32 -vinda da Freguesia do Ó, zona norte, sua
família ficou em cadeiras alugadas a R$ 5 no lado direito.
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