São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Praia da Baleia é dividida entre luxo de condomínios e improviso de visitantes

WILLIAN VIEIRA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO SEBASTIÃO

"Olha o queijo quente", gritava o vendedor Leonardo Santos, 21, a brasa pendurada na mão, feliz com os 132 queijos vendidos no lado esquerdo da praia da Baleia, em São Sebastião (SP) -pois no lado direito, o público abriu mão do petisco. "Daqui para lá vende bem, daqui para lá, nenhum. Acho que madame não gosta de queijo."
É que há, nas duas metades da praia, separada praticamente no meio dos seus 2,4 km, dois públicos e dois jeitos de aproveitar uma das mais limpas e caras faixas de areia do litoral norte de São Paulo.
Se do lado direito de quem vê o mar os condomínios "loteiam" o espaço da praia (com guarda-sóis e toldos), no esquerdo, quem não tem casa na região estende as cangas no chão, come ali mesmo e fica sem banheiro o dia inteiro.
São 15h de sábado, e o sol rompe as nuvens, refletindo-se nas piscinas onde nadam os moradores dos condomínios: são 36, segundo a Sabaleia (Associação Amigos do Bairro Praia da Baleia), a maioria no lado direito, vazio a despeito do calor e da infraestrutura pronta -18 toldos brancos com até dez cadeiras cada um, fora 40 guarda-sóis, tudo vazio.
"O pessoal aqui vai almoçar e nem volta mais, fica em casa", diz o funcionário, guardando as cadeiras para devolver ao depósito do condomínio. No dia seguinte, chegará às 7h e montará tudo novamente para garantir o conforto dos condôminos.
"Tem que montar cedo, senão o condômino, que pagou caro por uma residência na praia, na hora em que for aproveitar, não vai ter espaço", diz Eduardo Nunes, coordenador operacional da Sabaleia, que mantém 36 funcionários para cuidar da segurança, do lixo e até da montagem do guarda-sol. "Mas não estamos ainda como o Guarujá, onde tem que montar tudo às 4h30, senão o turista de um dia vem e toma tudo."

Bem público
Em outubro de 2008, a Justiça Federal proibiu os condomínios da praia de Astúrias, no Guarujá (SP), a cerca de 100 m de São Sebastião, de colocar guarda-sóis na praia para reservar espaço. "As praias são bens públicos de uso comum", escreveu a juíza Alessandra Aranha.
Mas a decisão só vale para Astúrias. Assim, de sunga a poucos metros de casa, o empresário Vitor Kindi, 50, aproveitava o mormaço sob o toldo do condomínio na Baleia. "Comprei a casa aqui porque a praia é a tranquila e não tem comércio. Do resto, a Sabaleia cuida", diz, satisfeito com a comodidade.
"A imagem da praia da Baleia é de uma praia limpa, organizada e segura. E isso acaba atraindo outras pessoas", diz Nunes, da Sabaleia, explicando que "o público da Baleia tem mudado nos últimos dez anos". É que, de paraíso escondido, a praia tem caído no gosto de turistas.
"Aqui é como se fosse uma praia privada, e nós, os penetras, não temos como concorrer com os condomínios", reclamava a tecnóloga Elizete Rezende, 35, que caminhou 200 metros no lado esquerdo da praia até encontrar um espaço para fincar o guarda-sol. "Nós somos caras-de-pau e ficamos aqui mesmo", diz o amigo Ovídio Marques Dias, 42. Ele se lembra de quando vinha com a família, há 25 anos, "e fazia literalmente aquela farofada".
Tanto quem vem de Bertioga quanto de Caraguatatuba não verá placa nenhuma indicando a Baleia -nem no trevo que leva, à direita, à Barra do Sahy e, à esquerda, à Baleia. Só após cruzar a ponte de madeira (que range à passagem do carro) e ver casas de luxo nos dois lados da estrada o turista saberá onde está. "É escondidinha, porque, se divulgar, atrai farofeiro", diz Lilian Souza, 32 -vinda da Freguesia do Ó, zona norte, sua família ficou em cadeiras alugadas a R$ 5 no lado direito.


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