|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ADMINISTRAÇÃO
Com nova regra, apenas pequenos estabelecimentos terão de fechar à 1h; para especialista, restrição "nunca existiu"
Lei derruba "toque de recolher" em bares
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A lei que proibia bares de funcionar depois da 1h em São Paulo
agora ficará restrita apenas aos
pequenos botecos que vendem só
bebidas, a maioria na periferia.
Uma lei sancionada anteontem
pela prefeita Marta Suplicy (PT)
elimina as restrições ao funcionamento de restaurantes, lanchonetes, choperias, churrascarias e pizzarias, que não têm mais horário
para fechar. Assim, a maioria dos
bares paulistanos poderá permanecer aberta até mais tarde.
Com as mudanças, devem ser
beneficiados cerca de 10 mil estabelecimentos, de acordo com o
Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo. Pela lei anterior, elaborada pelo vereador Jooji Hato (PMDB),
podiam ficar abertos apenas os
bares que tivessem isolamento
acústico, portas fechadas, estacionamento e seguranças.
O objetivo principal da lei, em
vigor desde 1999, era diminuir a
violência, tanto que o projeto foi
feito após o assassinato de jovens
no bar Bodega, em 1996, um crime que teve grande repercussão.
Quando a lei começou a ser
aplicada, houve uma grande polêmica -e uma liminar chegou a
suspendê-la- justamente porque não ficava clara a definição de
bar. A nova lei também não traz
uma definição de o que é um
"bar", o que pode, na prática, liberar totalmente a restrição.
Lei do silêncio continua
No ano passado, foram realizadas 8.116 vistorias, com 815 bares
fechados. Desses, 118 repetiram as
falhas e foram multados em cerca
de R$ 24 mil, de acordo com o diretor técnico do Psiu (Programa
de Silêncio Urbano, da prefeitura), Rosano Maieto.
O diretor técnico do Psiu explica que, apesar das mudanças na
lei, permanecem as restrições ao
ruído emitido por esses estabelecimentos, que podem ser denunciados pelo telefone 156.
Segundo Maieto, o principal parâmetro para o fechamento ou
não de um bar pela nova lei será a
sua razão social. Além disso, os
fiscais também poderão analisar o
funcionamento do local "na prática". A prefeitura tem apenas 25
fiscais para cerca de 90 mil estabelecimentos na cidade. Nesse número estão incluídos desde grandes restaurantes e bares até botequins montados na porta de casa.
Talvez seja em razão da discrepância entre o número de estabelecimentos e de fiscais que o pesquisador Guaracy Mingardi, do
Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a
Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente), diga que "não
dá para saber se a lei teve efeito ou
não porque ela simplesmente não
entrou em vigor". Ele afirma que,
"nos locais em que há homicídios,
dentro das favelas, o fiscal não vai
fechar os bares".
Como o pesquisador, o diretor
de comunicação do sindicato,
Mário Fuchs, diz que a lei anterior
"não teve o mínimo impacto".
"Era uma lei que tinha como ponto básico a segurança. Chacinas
não acontecem na Vila Madalena,
mas no fim do mundo."
O autor da nova lei, o vereador
João Antonio (PT), culpou o governo estadual pela questão da
violência e disse que o setor de
serviços não pode ser prejudicado
por isso. "Essa lei recoloca a questão no seu devido lugar."
Questionada, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que, nos
municípios em que a lei foi efetivamente cumprida -o que é responsabilidade da prefeitura-,
houve queda nos crimes.
Já o autor da antiga lei, Jooji Hato, diz que a nova lei "é inócua
porque não há nenhuma lei, nem
minha, que impeça restaurantes e
lanchonetes de abrir. É autorizar
o que já está autorizado".
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Menor infrator: Inspeção encontra feridos na Febem Índice
|