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Deputado conseguiu doação de carros
Municípios do interior paulista foram beneficiados; especialistas contestam critérios do Fundo Nacional de Segurança
Também são registradas distorções na distribuição
de verbas e equipamentos para os Estados, segundo afirmam os críticos do fundo
DA REPORTAGEM LOCAL
A cidade natal do ministro
Márcio Thomaz Bastos é um
bom exemplo de como as verbas do Fundo Nacional de Segurança são distribuídas. Cruzeiro registrou no ano passado
seis homicídios -ou 7,8 mortos
por cem mil habitantes, praticamente 1/3 da média brasileira (22 homicídios por cem mil
habitantes). Foram contabilizados também 111 roubos,
1.049 furtos e 85 furtos e roubos de veículos.
Se fossem seguidos os critérios do fundo, a cidade não receberia os dois carros de policia. Na prática, as verbas do
fundo são distribuídas em parte segundo o velho balcão de
trocas de favores: os políticos
pedem e o governo dá.
A doação de 12 carros para cidades do interior paulista foi
obtida pelo deputado federal
Marcelo Ortiz (PV-SP), segundo ele próprio. Além de Cruzeiro, foram contemplados os municípios de Arapeí, Jambeiro,
Queluz e Redenção da Serra
(todos no Vale do Paraíba, área
de atuação do deputado) e Itapira (no sul do Estado).
O repasse direto para os municípios é um desperdício, na
avaliação do titular da Secretaria Nacional de Segurança no
governo de Fernando Henrique Cardoso, coronel reformado José Vicente da Silva Filho.
"Os municípios têm pouquíssimo poder para reduzir os números da criminalidade. Esse
papel é da Polícia Militar e da
Polícia Civil", diz.
A falta de critérios que levou
o fundo a doar carros para municípios que têm pouca violência se reproduz na distribuição
de verbas para os Estados.
São Paulo, que tem algumas
das cidades mais violentas do
país, ficou em penúltimo lugar
num ranking que contabiliza o
valor distribuído pelo fundo em
relação à população.
Dados da própria Secretaria
Nacional de Segurança mostram que, entre 2000 e 2005,
São Paulo recebeu entre R$
5,35 e R$ 7,94 por habitante (o
patamar mais baixo do estudo).
Os Estados que mais receberam recursos por habitante foram: Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Piauí, Acre, Amapá e
Roraima. Nesses seis Estados, a
faixa de recursos por habitante
vai de R$ 16,49 a R$ 70,70.
Faz todo sentido que um fundo nacional privilegie regiões
sem recursos -um dos sentidos desse tipo de mecanismo é
corrigir distorções. O problema, segundo Silva Filho, é que
essa distribuição parece não
obedecer a critério nenhum -a
não ser, segundo ele, que Mato
Grosso do Sul, Acre e Piauí tiveram governadores petistas.
O Estado de São Paulo recebeu do governo federal só quatro carros de polícia nos últimos quatro anos, de acordo
com o coronel. Piauí, Acre e
Sergipe, Estados governados
pelo PT nos últimos quatro
anos, foram contemplados com
63, 94 e 75, respectivamente.
(MARIO CESAR CARVALHO)
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