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Promotoria investiga fraude na merenda
Suspeita é de conluio entre as empresas para burlar licitação feita pela administração Gilberto Kassab (DEM) em 2007
Três depoimentos oficiais e uma gravação recebida pela Promotoria falam de um acerto entre empresários
às vésperas do pregão
ALENCAR IZIDORO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Estadual investiga a existência de
conluio entre empresas da merenda escolar para fraudar licitação feita pela Prefeitura de
São Paulo em maio de 2007, na
gestão Gilberto Kassab (DEM).
As prestadoras do serviço
terceirizado têm recebido do
município, desde então, mais
de R$ 200 milhões por ano.
A investigação sobre formação de cartel, lavagem de dinheiro e corrupção de agentes
públicos se estende a pelo menos outros 13 municípios, envolvendo as mesmas empresas,
e abrange também a má qualidade da alimentação fornecida
aos alunos da rede paulistana.
Três depoimentos oficiais e
uma gravação recebida pela
Promotoria falam de um acerto
entre empresários às vésperas
do pregão realizado há dois
anos durante a gestão Kassab.
Num depoimento, o advogado J. (cujo nome é mantido em
sigilo a pedido da Promotoria),
que foi ligado ao grupo SP Alimentação, diz que a combinação envolveu no mínimo três
empresas para a distribuição de
seis lotes em disputa -além da
SP Alimentação, cita a Nutriplus e a Geraldo J. Coan. Ele diz
ter tido acesso a gravação que
comprova os acertos -e que cita outras empresas.
A escuta foi anexada ao processo, mas não deve ser utilizada como prova pelo Ministério
Público devido à avaliação de
que ela é clandestina -teria sido feita por um então colaborador de uma das empresas.
A Folha também teve acesso
ao grampo -do qual não tem
comprovação de autenticidade-, no qual os interlocutores
se identificam como representantes de algumas empresas de
merenda escolar e conversam
sobre preços e combinações
para forjar a disputa no pregão,
cujas propostas seriam apresentadas no dia seguinte.
Num trecho da escuta, um
homem que se identifica como
Eloizo diz a outro de nome
Magno estar reunido num hotel com representantes das
principais empresas de merenda para fazer a divisão. No total, nove participaram da concorrência, das quais seis venceram e prestam serviços hoje.
Nas conversas, eles discutem
a área em que vão ganhar -no
caso, a de número 1- e outra na
qual tem de entrar só para fazer a cobertura (jargão para entregar proposta só para forjar a
disputa) -no caso, a de número 2- para a empresa Sistal.
O nome do presidente da SP
Alimentação é Eloizo Gomes
Afonso Duraes. O do vice, Olesio Magno de Carvalho. O Ministério Público suspeita que
sejam os mesmos citados na
gravação, mas a Folha desconhece que tenha sido feita perícia para comprovar isso.
Na gravação, os interlocutores falam dos preços que devem apresentar (incluindo a
proposta inicial de R$ 6,066
milhões em uma das áreas, valor recomendado por um homem que se apresenta como
"Tiago da empresa Coan") e sobre novo encontro no dia seguinte, no hotel Othon da rua
Libero Badaró, a 300 metros
do endereço do pregão, para os
últimos acertos "porque ninguém confia em ninguém".
As combinações que constam da gravação são confirmadas pelo resultado da licitação.
Cada um dos seis lotes ofertados pela prefeitura foi vencido
por um grupo. Mas, na prática,
quase não houve disputa.
No começo do pregão, as empresas entregaram suas propostas para diversas áreas.
Mas, no decorrer do processo,
abriram mão da disputa e cada
uma só aceitou nova oferta no
lote em que acabou vencendo.
Relatos colhidos a partir do
início de 2008 pela Promotoria
falam de uma rede de acertos
entre empresários que fazem a
merenda terceirizada em várias cidades do país.
O advogado J., que foi representante em licitações de uma
empresa ligada à SP Alimentação, declarou à Promotoria
que, além do "direcionamento"
em licitações, tomou conhecimento de propinas de R$ 50
mil "a agentes públicos".
O promotor criminal Arthur
Lemos diz que há outros dados
que avalizam a tese de conluio
da gravação. "Colhemos depoimentos de pessoas que confirmam isso, que já estiveram envolvidas no esquema, que participaram da licitação."
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