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Órgão que fiscaliza merenda aponta irregularidades
Conselho de Alimentação Escolar constatou problemas como salsicha cortada em 3 para render mais e comida em decomposição
Promotoria quer interrupção dos contratos com as empresas -as mesmas que são investigadas sob suspeita de fraudar a licitação
DA REPORTAGEM LOCAL
Alimentos em decomposição, salsicha cortada em três
para render mais, proibição de
servir mais de um pedaço de
fruta a alunos. São algumas das
irregularidades apontadas pelo
vice-presidente do CAE (Conselho de Alimentação Escolar),
José Ghiotto Neto, em depoimento ao Ministério Público.
O CAE é um dos órgãos oficiais de fiscalização da merenda e é composto por representantes de pais, professores e
funcionários públicos. O conselho é responsável pelo controle
das verbas da merenda e seus
relatórios podem provocar até
a suspensão de repasses da
União ao município.
Além de depor, Ghiotto Neto
entregou, em setembro de
2008, fotografias e relatou os
resultados de auditorias realizadas ao longo de 2007 em escolas da capital paulista.
Com base em documentos e
informações apuradas no inquérito, a Promotoria quer a interrupção dos contratos com as
empresas (as mesmas que estão sob investigação sob suspeita de fraudar a licitação).
"A prioridade atual é buscar a
suspensão dos contratos das
empresas que estão fornecendo a merenda para que a prefeitura reassuma a função", afirma Silvio Antonio Marques,
promotor da Cidadania.
O processo de terceirização
da merenda escolar em São
Paulo foi expandido na atual
década. Antes, a própria prefeitura comprava os alimentos, fazia a comida e a distribuía.
A prefeitura chegou a contratar a Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas), ligada à USP, para avaliar se a
merenda terceirizada proporcionava redução de gastos.
Apesar de a Fipe ter apontado um cenário desfavorável
-com preços até 3,7 vezes
maiores-, a política de terceirização teve continuidade.
Parte dessas supostas irregularidades, incluindo a divisão
de maçãs em pedaços e o pagamento de um prêmio às merendeiras das terceirizadas que
conseguissem racionar a merenda, foi revelada pela Folha
em setembro de 2007.
Crianças de ao menos uma
escola em Santo Amaro, que
atende alunos com necessidades especiais, só recebiam um
terço de salsicha porque a
quantidade entregue pela empresa era insuficiente.
Em outra escola, a carne, que
deveria ser servida em pedaços,
era picada e misturada a legumes, o que impedia que o CAE
fiscalizasse a quantidade distribuída por aluno. A vistoria nesta unidade foi realizada em 13
de agosto de 2007. Também
era utilizada a estratégia de
desfiar os pedaços de frango.
O conselheiro também informou ao Ministério Público a
existência, em 2007, do "prêmio economia", de R$ 40, que
era dado a merendeiras de três
escolas que conseguiam reduzir o consumo de ingredientes
na merenda escolar. Na época,
a empresa Nutriplus, acusada
pela irregularidade, disse que o
acréscimo salarial era devido à
qualidade do serviço prestado e
não para economizar.
O vice-presidente do CAE
afirmou que, em outra vistoria
em São Paulo, a merendeira de
uma empresas se negou a dar
um segundo pedaço de mamão
à criança, na presença de integrantes do conselho, apesar de
a prefeitura pagar um extra já
prevendo casos em que o aluno
repete a refeição.
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