BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

O presentinho de Natal que a Ford enviou pelo correio aos 2.800 funcionários demitidos no final do ano passado teve uma repercussão inusitada.
Dessa vez, até a classe média, que costuma se indignar com os metalúrgicos por considerá-los uma categoria que chora de barriga cheia, se comoveu com as vítimas da insensibilidade perpetrada pela Ford.
Pois que o episódio das demissões que deixou 2.800 famílias sem peru de Natal sirva para que o governo, os sindicatos e as montadoras se unam e resolvam juntos colocar a cabeça em moto a fim de procurar alternativas para debelar esta crise criada em grande parte por uma reeleição conseguida a qualquer preço.
Examine um exemplo que já deveria ter sido imitado há tempos em terras tapuias.
Na Itália a "rottamazzione" ("rottame" significa ferro velho, rebotalho, escombro) foi uma maneira inteligente que a indústria automobilística e o governo encontraram para gerar empregos e impostos.
Já falei sobre o assunto neste espaço, quando do início da operação, alguns anos atrás. Hoje, comprovado o seu sucesso também em outros países da Europa, como na França, na Inglaterra e na Suíça, volto a bater na mesma tecla.
Em alguns países, como na Itália e na França, a reciclagem é opcional. Na Suíça, é obrigatória.
Funciona assim: carros com mais de dez anos de existência ou x quilômetros rodados são levados pelo proprietário ao departamento de trânsito.
Lá, o dono da chaleira velha vê seu carro ser esmagado por uma máquina diante dos próprios olhos e transformado em um cubo de ferro.
Por esse ex-carro em formato de caixote, o proprietário recebe cerca de US$ 1.000, US$ 1.500, dependendo do país, dinheiro que deverá ser utilizado para dar entrada em um carro novo.
Além de eliminar as banheiras velhas que circulam pelas ruas oferecendo perigo aos motoristas, a "rottamazzione" ajuda a despoluir o meio ambiente e a gerar empregos e impostos na forma de IPI e ICMS.
No Brasil, as montadoras, que reinaram supremas durante quatro décadas, ainda não se dignaram de colocar a mão no bolso para ajudar a custear uma operação desse tipo. Diante de episódios como o da Ford, é bom que elas comecem a ruminar a idéia.

QUALQUER NOTA

"Caras" de pau
O Zezé di Camargo que aparece na capa da "Caras" desta semana, de férias em Angra dos Reis e afirmando que a vida do irmão "vale mais, porém não vou pagar US$ 5 milhões", é o mesmo Zezé di Camargo que teve o irmão sequestrado? A complacência do leitor tapuia não tem limites.

País da fila