São Paulo, Sexta-feira, 05 de Fevereiro de 1999
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VIOLÊNCIA
Em depoimento à polícia, funcionários apontam nomes de colegas que surraram menores queimados e nus
Monitores confirmam tortura na Febem

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

Funcionários da própria Febem (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor) confirmaram, em depoimento à polícia, que adolescentes infratores foram surrados por alguns monitores da fundação após o incêndio ocorrido em dezembro passado na Unidade Educacional 17 (UE-17), do Tatuapé.
O fogo começou por volta das 22h da véspera do Natal, em um dormitório da unidade, após uma tentativa de fuga seguida de rebelião. Cerca de 40 menores estavam trancados no quarto incendiado. Um morreu e 22 ficaram feridos.
Os depoimentos foram presenciados pelo promotor de Justiça Fausto Junqueira de Paula, designado para acompanhar o inquérito instaurado no 81º DP (Belém).
Segundo o promotor, funcionários que chegaram à UE-17 quando as portas do dormitório já tinham sido abertas narram um cena chocante: eles viram menores nus e queimados sendo espancados por monitores a pauladas. Um dos agressores foi citado nominalmente pelos colegas da Febem.
As agressões podem ser classificadas como crime de tortura, com pena de dois a oito anos de prisão. Além disso, cada um dos acusados pode ser denunciado por homicídio doloso e cerca de 40 tentativas de assassinato qualificadas.
A Folha informou ontem que o laudo produzido pela polícia técnica sobre o incêndio deve confirmar a versão apresentada pelos adolescentes à polícia.
O documento do Instituto de Criminalística (IC) aponta uma substância do tipo removedor (semelhante ao querosene) como sendo o produto inflamável utilizado para alimentar as chamas.
O produto é estocado em um depósito de acesso restrito a diretores e encarregados das unidades.
Além disso, o laudo dirá que o incêndio teve focos múltiplos, identificados, sobretudo, por baixo das portas do dormitório. Os focos são os mesmos apontados pelos adolescentes infratores.
Em depoimento, muitos dos monitores da Febem afirmaram desconhecer a origem do fogo, mas não acusaram os menores de terem provocado o incêndio. Um deles, porém, disse que viu os colegas planejando queimar o quarto.
Quando o dormitório já estava em chamas, de acordo com o relato dos adolescentes, todos que tentavam sair pela porta de ferro eram espancados pelos monitores, que formavam uma barricada.
"Os menores voltavam para dentro do quarto e os que estavam mais atrás se queimavam", disse o promotor. "Temos fotos de meninos com quatro cortes na cabeça."
O documento produzido pelo IC deve ser divulgado e encaminhado à polícia na próxima semana.
Depois disso, o Ministério Público deverá levar um mês para decidir sobre o destino do caso.


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