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Foco
Central de leitos do Rio funciona como "gabinete de crise" para a dengue
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
"Você conhece o inferno?",
diz o médico Carlos Pinton,
antes de abrir a porta da Central de Regulação de Leitos do
Rio. O "inferno de Pinton"
tem ar-condicionado. Apenas
isso torna o ambiente agradável. É em uma sala de cerca de
60 metros quadrados -com
17 computadores, 32 funcionários e muito papel- que
são decididas as internações
das vítimas da epidemia de
dengue na região metropolitana do Rio de Janeiro e na
Baixada Fluminense.
Na definição do superintendente de Desenvolvimento, Integração e Regulação,
Carlos Alberto Chaves, o local
parece um "call center", mas
na prática assemelha-se mais
a um pregão da Bolsa de Valores. Em vez de tratar de ações,
os "operadores da saúde" negociam pacientes e leitos.
A sala administrada pelo
governo do Estado começou a
ser montada há três meses
-contando também com
doações de empresas. Inicialmente, regularia apenas leitos para serviços de alta complexidade, como neurocirurgias e hemodiálise. Em 4 de
março, tornou-se o centro
nervoso de internações das
vítimas da dengue.
O telefone toca sem parar.
São médicos dos hospitais
municipal, estadual e federal
em busca de um dos 760 leitos sob responsabilidade da
central. A equipe de 14 telefonistas se divide em duas tarefas: um grupo recebe os pedidos, outro tenta encontrar
leitos vagos. As vagas são escritas em um quadro-negro
com as iniciais dos hospitais.
"Não é assim que é feito nas
guerras?", pergunta Chaves.
Os hospitais enviam um
formulário com a situação clínica do paciente. Com os dados, o médico classifica o paciente como "A", "B", "C" ou
"D" ("D" é o paciente em
maior risco). A internação é
recomendável para os pacientes "B" em diante.
Correria. Um leito foi encontrado para a paciente Deise Maria Mattos Goulart, 33.
Uma médica no plantão anterior a definiu como "C/D". A
médica capitão do Exército
Kátia Gouvêia, 45, ao analisar
o papel de fax -com sua má
impressão característica-
considerou a classificação errada. "Os sintomas mostram
que é um paciente B. Ela vai
para o Hospital Estadual
Eduardo Rabelo, que não é
muito bom, mas vai conseguir
resolver o problema".
Questionada se não temia
colocar a paciente em um local com menos recursos, ela
afirma: "Com os dados que
estão no protocolo, o caso dela é B. O que pode acontecer é
que ela pode ter piorado enquanto esperava. Mas aí não
há o que fazer. Eu procuro leito para este paciente [mostrando o papel]. Se ele piorou,
o médico é quem deve avisar".
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