São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Foco

Central de leitos do Rio funciona como "gabinete de crise" para a dengue

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

"Você conhece o inferno?", diz o médico Carlos Pinton, antes de abrir a porta da Central de Regulação de Leitos do Rio. O "inferno de Pinton" tem ar-condicionado. Apenas isso torna o ambiente agradável. É em uma sala de cerca de 60 metros quadrados -com 17 computadores, 32 funcionários e muito papel- que são decididas as internações das vítimas da epidemia de dengue na região metropolitana do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense.
Na definição do superintendente de Desenvolvimento, Integração e Regulação, Carlos Alberto Chaves, o local parece um "call center", mas na prática assemelha-se mais a um pregão da Bolsa de Valores. Em vez de tratar de ações, os "operadores da saúde" negociam pacientes e leitos.
A sala administrada pelo governo do Estado começou a ser montada há três meses -contando também com doações de empresas. Inicialmente, regularia apenas leitos para serviços de alta complexidade, como neurocirurgias e hemodiálise. Em 4 de março, tornou-se o centro nervoso de internações das vítimas da dengue.
O telefone toca sem parar. São médicos dos hospitais municipal, estadual e federal em busca de um dos 760 leitos sob responsabilidade da central. A equipe de 14 telefonistas se divide em duas tarefas: um grupo recebe os pedidos, outro tenta encontrar leitos vagos. As vagas são escritas em um quadro-negro com as iniciais dos hospitais. "Não é assim que é feito nas guerras?", pergunta Chaves.
Os hospitais enviam um formulário com a situação clínica do paciente. Com os dados, o médico classifica o paciente como "A", "B", "C" ou "D" ("D" é o paciente em maior risco). A internação é recomendável para os pacientes "B" em diante.
Correria. Um leito foi encontrado para a paciente Deise Maria Mattos Goulart, 33. Uma médica no plantão anterior a definiu como "C/D". A médica capitão do Exército Kátia Gouvêia, 45, ao analisar o papel de fax -com sua má impressão característica- considerou a classificação errada. "Os sintomas mostram que é um paciente B. Ela vai para o Hospital Estadual Eduardo Rabelo, que não é muito bom, mas vai conseguir resolver o problema".
Questionada se não temia colocar a paciente em um local com menos recursos, ela afirma: "Com os dados que estão no protocolo, o caso dela é B. O que pode acontecer é que ela pode ter piorado enquanto esperava. Mas aí não há o que fazer. Eu procuro leito para este paciente [mostrando o papel]. Se ele piorou, o médico é quem deve avisar".


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