São Paulo, domingo, 5 de abril de 1998

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"Minha educação foi na rua"

da Reportagem Local

Simone Santos Silva, 23, é o Boy, como a chamam na detenção. Cabelos curtos, como muitas das presas, ela se veste e se movimenta como um menino. É autora do rap "18 anos", que ela mesma canta na peça. "Comecei a roubar, cheirar cola e a fumar; coisa boa nesse mundo ninguém pode ensinar", ela canta. A música da peça recebeu um "toque" de KLJ, um dos integrantes da banda Racionais.
"Minha educação foi na rua, na Paulista, na Augusta. Comecei pedindo dinheiro, estou condenada por assalto, tenho sete anos pela frente, mas vou sair daqui outra."
Rita de Cassia dos Reis Pereira, 20, faz na peça o papel de "Latrô". É ela que convence Eva, a namorada de um traficante, a entregar drogas numa "bocada". Eva vai cair nas mãos da polícia.
Rita fugiu de casa quando tinha 16 anos e se apaixonou por uma menina da praça da Sé. Está condenada por assalto, já teve outras amantes na cadeia mas só na pensa na outra, a da Sé. "Minha mulher é ela, é ela que eu quero."
O amor dentro da cadeia é outro tema forte da peça. Diferentemente dos presos, as detentas não têm direito a visita íntima. Uma pesquisa do Coletivo de Feministas Lésbicas mostra que só 4% se dizem homossexuais no primeiro ano de prisão. Entre as que estão há quatro anos ou mais, 27% se afirmam homossexuais e 21% bissexuais. "É a sexualidade compulsória", declara Marisa Fernandes, uma das autoras da pesquisa.
(AB)


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