|
Próximo Texto | Índice
DIREÇÃO PERIGOSA
Taxas medidas pelo Ministério da Saúde superam as da África; mais de 32 mil morreram em acidentes em 2002
Região Norte lidera mortes no trânsito
ALENCAR IZIDORO
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro capitais brasileiras da
região Norte lideram os índices de
mortalidade no trânsito do país e
chegam a superar as médias do
continente africano, segundo relatório do Ministério da Saúde
concluído em março deste ano,
com base em dados de 2002.
Boa Vista (RR), Palmas (TO),
Porto Velho (RO) e Macapá (AP)
têm, entre todas as capitais, as
maiores taxas anuais de mortos
em acidentes de transporte terrestre por 100 mil habitantes.
Os índices deles, de 48, 35,4, 33,6
e 32 mortos por 100 mil habitantes, respectivamente, ultrapassam
a média de 28,3 dos países da África, campeã mundial em mortalidade do trânsito, conforme estudo da Organização Mundial da
Saúde divulgado em 7 de abril. A
entidade elegeu a segurança viária
-que mata 1,2 milhão anualmente no mundo- como tema
de sua campanha de 2004.
Além das quatro líderes localizadas na região Norte do país,
Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e
Campo Grande (MS), do Centro-Oeste, também tiveram marcas
superiores à média africana.
Os registros do Ministério da
Saúde, baseados em atestados de
óbito, apontaram mais de 32 mil
mortes em acidentes de trânsito
em 2002, montante que dá ao Brasil uma taxa de 18,7 vítimas por
100 mil habitantes. Trata-se de
um índice superior ao de países
desenvolvidos da Europa (média
11, sendo 6,7 na Suécia) e que tende a ser pior, já que especialistas
avaliam haver subnotificação.
Ou seja, os dados tabulados no
ranking brasileiro são os mínimos
e não indicam, necessariamente,
que todas as capitais com baixos
índices têm situação confortável
de segurança viária -já que algumas podem ter maiores proporções de registros subnotificados.
Em São Paulo, a média de 9,5
mortos por 100 mil habitantes põe
a capital paulista numa situação
que se aproxima da de países europeus. A cidade conseguiu reduzir a mortalidade em mais de 30%
após a implantação do Código de
Trânsito Brasileiro, em 1998.
Estatísticas do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no
Município de São Paulo), entretanto, apontam uma elevação de
6% em 2003 em relação a 2000.
Os motivos das altas taxas de
mortes no trânsito em capitais da
região Norte são variados. Eles
começam na falta de infra-estrutura -ruas inseguras, sem calçadas para pedestres -e se estendem às condições precárias de
controle dos governos.
O secretário de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde,
Jarbas Barbosa, diz que esses municípios tiveram uma urbanização acelerada, ampliando a utilização de veículos motorizados,
enquanto as ações do Estado para
controlar essa circulação -com
multas e cassação de carteiras de
habilitação, por exemplo- não
acompanharam esse ritmo.
Cristina Baddini, da direção da
ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos, que lidera
uma campanha pela paz no trânsito) e que já foi responsável pela
secretaria de trânsito de Belém
(1997-2000), cita um círculo vicioso: muitos lugares não têm nem
infra-estrutura viária; sem infra-estrutura, não há sinalização; sem
sinalização, não há fiscalização
nem punição dos condutores.
Ela diz que a embriaguez -estimulada pelo clima quente e pelas
poucas alternativas de diversão-
e as altas velocidades -em Macapá, estimuladas pela presença de
vias largas- são os principais
problema da região. As prefeituras, afirma Baddini, além de não
saberem identificar os focos da
mortalidade no trânsito, não têm
recursos para inverter a situação.
Os especialistas também apontam que as capitais mais distantes
da região Sul/Sudeste foram as
que mais demoraram para receber a fiscalização eletrônica de
controle da velocidade -considerada um dos principais instrumentos para diminuir acidentes.
Silvio Médici, da Abramcet (associação das operadoras de radar), diz que há maior resistência
política e dificuldade econômica
-já que os municípios menores
são menos lucrativos e dependem
de investimentos públicos para
terem essas tecnologias.
Próximo Texto: Direção perigosa: Líderes de acidentes têm fiscalização falha Índice
|