São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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DIREÇÃO PERIGOSA

Taxas medidas pelo Ministério da Saúde superam as da África; mais de 32 mil morreram em acidentes em 2002

Região Norte lidera mortes no trânsito

ALENCAR IZIDORO
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro capitais brasileiras da região Norte lideram os índices de mortalidade no trânsito do país e chegam a superar as médias do continente africano, segundo relatório do Ministério da Saúde concluído em março deste ano, com base em dados de 2002.
Boa Vista (RR), Palmas (TO), Porto Velho (RO) e Macapá (AP) têm, entre todas as capitais, as maiores taxas anuais de mortos em acidentes de transporte terrestre por 100 mil habitantes.
Os índices deles, de 48, 35,4, 33,6 e 32 mortos por 100 mil habitantes, respectivamente, ultrapassam a média de 28,3 dos países da África, campeã mundial em mortalidade do trânsito, conforme estudo da Organização Mundial da Saúde divulgado em 7 de abril. A entidade elegeu a segurança viária -que mata 1,2 milhão anualmente no mundo- como tema de sua campanha de 2004.
Além das quatro líderes localizadas na região Norte do país, Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Campo Grande (MS), do Centro-Oeste, também tiveram marcas superiores à média africana.
Os registros do Ministério da Saúde, baseados em atestados de óbito, apontaram mais de 32 mil mortes em acidentes de trânsito em 2002, montante que dá ao Brasil uma taxa de 18,7 vítimas por 100 mil habitantes. Trata-se de um índice superior ao de países desenvolvidos da Europa (média 11, sendo 6,7 na Suécia) e que tende a ser pior, já que especialistas avaliam haver subnotificação.
Ou seja, os dados tabulados no ranking brasileiro são os mínimos e não indicam, necessariamente, que todas as capitais com baixos índices têm situação confortável de segurança viária -já que algumas podem ter maiores proporções de registros subnotificados.
Em São Paulo, a média de 9,5 mortos por 100 mil habitantes põe a capital paulista numa situação que se aproxima da de países europeus. A cidade conseguiu reduzir a mortalidade em mais de 30% após a implantação do Código de Trânsito Brasileiro, em 1998.
Estatísticas do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo), entretanto, apontam uma elevação de 6% em 2003 em relação a 2000.
Os motivos das altas taxas de mortes no trânsito em capitais da região Norte são variados. Eles começam na falta de infra-estrutura -ruas inseguras, sem calçadas para pedestres -e se estendem às condições precárias de controle dos governos.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, diz que esses municípios tiveram uma urbanização acelerada, ampliando a utilização de veículos motorizados, enquanto as ações do Estado para controlar essa circulação -com multas e cassação de carteiras de habilitação, por exemplo- não acompanharam esse ritmo.
Cristina Baddini, da direção da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos, que lidera uma campanha pela paz no trânsito) e que já foi responsável pela secretaria de trânsito de Belém (1997-2000), cita um círculo vicioso: muitos lugares não têm nem infra-estrutura viária; sem infra-estrutura, não há sinalização; sem sinalização, não há fiscalização nem punição dos condutores.
Ela diz que a embriaguez -estimulada pelo clima quente e pelas poucas alternativas de diversão- e as altas velocidades -em Macapá, estimuladas pela presença de vias largas- são os principais problema da região. As prefeituras, afirma Baddini, além de não saberem identificar os focos da mortalidade no trânsito, não têm recursos para inverter a situação.
Os especialistas também apontam que as capitais mais distantes da região Sul/Sudeste foram as que mais demoraram para receber a fiscalização eletrônica de controle da velocidade -considerada um dos principais instrumentos para diminuir acidentes.
Silvio Médici, da Abramcet (associação das operadoras de radar), diz que há maior resistência política e dificuldade econômica -já que os municípios menores são menos lucrativos e dependem de investimentos públicos para terem essas tecnologias.


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