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URBANIDADE
A revanche da derrota de Nápoles
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Em agosto passado, quando resolveu conhecer
o centro de Nápoles, na Itália,
pilotando uma moto, a premiada tenista Vanessa Menga estava no caminho de encerrar tragicamente um projeto de vida.
Vítima de um motorista descuidado, ela foi projetada ao chão e
sofreu danos irreversíveis na articulação dos braços. "Minha
carreira de jogadora profissional acabou." Só há poucas semanas ela voltou às quadras para a revanche.
Depois dos resultados médicos, a depressão trancou-a em
casa por vários meses; devorava
programas de televisão e chocolates. "Não engordei de ruindade." Quando ela não tinha os
pais e irmãos por perto, restava-lhe o consolo das conversas com
a empregada Linda (Lindária
Silva), que a conhece desde
menina.
Afastou a depressão achocolatada, saiu de casa e foi à caça de
um patrocínio para manter o
prazer do tênis e aliá-lo a um
antigo projeto: trabalhar com
crianças. "A jogadora profissional acabou, mas eu não acabei."
Até porque ainda tem 27 anos
de idade.
No início do ano, começou a
percorrer projetos sociais, oferecendo aulas de tênis. Na falta de
espaços adequados, propôs que
se improvisassem quadras ou se
utilizassem praças ou parques.
Há dois meses, passou a dar aulas numa quadra de basquete
numa pequena praça da rua
Mateus Grou, em Pinheiros, e no
parque Villa-Lobos.
"Estou ensinando não só tênis
mas também disciplina, equilíbrio, tenacidade, coisas que se
usam em qualquer lugar e para
sempre." Foi assim que foi ensinada desde os quatro anos,
quando começou a treinar, inspirada por seu pai, um professor
de tênis -ensinamentos que
certamente a ajudaram a lidar
com o trauma de se ver impedida de atuar profissionalmente.
Para ela, essa experiência educativa é o primeiro set de um novo jogo. Nessa revanche, Vanessa está se interessando por pedagogia para dar uma dimensão
especial ao esporte na vida das
crianças, a maioria delas sem
recursos para freqüentar aulas
nos clubes. Seu projeto de vida
agora é construir um espaço em
que possa receber crianças e jovens sem condições financeiras
de desenvolver o talento para o
tênis.
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