|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Grupo de trabalho avaliou tema durante 15 meses; discussão foi interrompida depois que estudantes xingaram reitor
USP suspende debate sobre as fundações
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando alguns estudantes começaram a xingar o reitor Adolpho José Melfi, 67, já dava para
prever que a discussão sobre a
atuação de 30 fundações de direito privado na maior universidade
pública do país, a USP, não acabaria bem. Não acabou.
Duas horas depois de iniciada, o
reitor deu por encerrada a reunião, e dispensou os 500 professores, alunos e funcionários que
compareceram ao teatro central
do campus do Butantã (zona oeste de São Paulo), para discutir os
resultados de um grupo de trabalho com 40 membros, que passou
15 meses estudando o tema das
fundações e debatendo-o com todas as faculdades.
A longa duração do estudo, a radicalização dos estudantes e o encerramento intempestivo têm razões que se medem em cifrões:
prestando serviços a empresas
privadas e a órgãos públicos, as
fundações privadas arrecadaram
em 2001 R$ 457,8 milhões, 35% do
orçamento total da USP. Dos recursos arrecadados, repassaram à
universidade apenas 4,26%, o restante servindo para complementar os salários dos professores que
avalizam a qualidade dos serviços
prestados e para custear pessoal e
administração.
A maioria dos membros do grupo de trabalho defende as fundações, dizendo que elas servem para dar mais agilidade às atividades
na USP, já que não estão sujeitas à
burocracia da máquina pública.
Dizem ainda que as fundações
permitem que a universidade interaja melhor com as demandas
da sociedade.
Como exemplo, a relatora Telma Zorn, 56, do Instituto de Ciências Biológicas, cita a Fundação
Zerbini, administradora do Instituto do Coração (Incor), modelo
de pesquisa e atendimento em
doenças cardíacas.
A própria pesquisadora, no entanto, reconhece que falta controle ou informação sobre as receitas
auferidas pelas fundações da USP.
Reconhece ainda que as entidades
privadas acabam interferindo indevidamente nas atividades acadêmicas, por exemplo, oferecendo cursos sem a aprovação dos
conselhos das faculdades. É aí que
os estudantes ficam furiosos.
A maior parte dos cursos oferecidos pelas fundações são pagos
pelos alunos e ministrados nas
instalações de uma universidade
que se define como pública e gratuita. Só com cursos, a Fundação
Instituto de Administração (FIA),
por exemplo, arrecadou R$ 32,3
milhões em 2001. Trata-se de receita maior do que todo o orçamento da Faculdade de Economia
a Administração, que a FIA, em
princípio, "apóia".
"Os cursos pagos promovidos
pelas fundações tornaram-se uma
indústria, ferindo o caráter público da USP e contrariando a Constituição Federal, que estabelece a
gratuidade do ensino em instituições oficiais", afirma o professor
Ciro Teixeira Correia, representante da Associação dos Docentes
no grupo de trabalho, secundado
pelo representante do Diretório
Central dos Estudantes.
Agora, cabe ao Conselho Universitário decidir: ou regulamentará o funcionamento das fundações, ou encampará todas numa
megafundação pública, como é a
Fuvest (Fundação para o Vestibular). Esta é a proposta da Adusp,
visando amplificar os controles
universitários sobre os recursos.
Antes do fim da reunião, um estudante perguntou: "Se 30% dos
professores com assento no Conselho Universitário são remunerados por fundações, como eles
votarão?" A reunião acabou antes
que a resposta pudesse ser dada.
Texto Anterior: Há 50 anos: Tropas francesas repelem comunistas Próximo Texto: Para novo presidente de conselho, cota não ataca origem do problema Índice
|