São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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SEGURANÇA

Participação do Exército em operação de combate ao crime organizado foi determinada por Lula, diz ministro da Defesa

Rio recebe tropas na próxima semana

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Defesa, José Viegas, informou ontem à Folha que o Exército será usado a partir da próxima semana no combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi a primeira autoridade a admitir publicamente a operação.
"O Exército vai ser usado no Rio. Foi uma determinação do presidente da República, que é sensível à violência a que tem sido exposta a população do Estado", disse o ministro, que participou, na segunda-feira passada, da reunião com Lula em que a decisão foi tomada.
"A partir do dia 10 [segunda-feira], as Forças Armadas já estarão em condições práticas de atuar", acrescentou Viegas.

Riscos
Estavam presentes à reunião os ministros José Dirceu (Casa Civil), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Aldo Rebelo (Coordenação Política), que avaliaram, inclusive, os riscos de uma operação militar em favelas com milhares, até milhões de civis.
"Risco sempre existe, é uma possibilidade, mas é menor do que o risco ao qual a população do Rio já está sendo submetida", disse Viegas, ele próprio carioca.
Uma das preocupações é justamente com o que ele chamou de "convencimento da opinião pública", alertando para os riscos inerentes a uma operação como essa, que pode, em tese, fazer vítimas entre inocentes.

Ações
Segundo o ministro da Defesa, haverá "operações pontuais" do Exército em conjunto com a Polícia Militar do Rio. Isso significa, por exemplo, a ocupação de uma das favelas conflagradas durante um dia inteiro, como se fosse uma varredura à procura de líderes de quadrilhas e de armas.
Toda a operação está sendo negociada com a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), e com o secretário de Segurança e marido dela, Anthony Garotinho. Segundo Viegas, eles já aceitaram uma condição fundamental: "Em toda e qualquer operação do Exército e da polícia, o Exército terá o controle operacional".
Esse controle, na prática, será exercido pelo comandante militar do Leste, general-de-exército Manoel Luiz Valdevez de Castro, que deverá ter apoio de unidades principalmente de dois batalhões de elite: o de Operações Especiais, no próprio Rio, e o de Infantaria Pára-quedista, em Goiânia. Somados, eles têm 5.600 homens, mas Viegas ressaltou que não serão todos eles desviados para a operação de combate ao crime no Rio. Rosinha havia requisitado 4.000 homens, mas o número não está definido.
O ministro, porém, ressalvou que não há intenção de o Exército "ficar mandando na polícia do Rio", mas apenas comandando as operações específicas.
O ministro também destacou que, exatamente por causa dos riscos de "acidentes" com a população civil, as tropas empregadas serão principalmente profissionais, praticamente sem recrutas. A Aeronáutica e a Marinha também deverão colaborar.

Preparação
O protocolo de ação conjunta deverá ser assinado na próxima segunda-feira, entre o governo federal e o governo do Estado. A partir daí, a operação será deflagrada a qualquer momento: "O desdobramento será urgente", disse Viegas.
Conforme a Folha apurou, a operação militar no Rio já vem sendo preparada de forma sigilosa há meses. A inteligência do Exército já atua, levantando inclusive quais os quadros que são confiáveis e quais os que não são na própria polícia do Estado.
Uma das grandes preocupações é exatamente essa: a do vazamento de locais, datas e táticas das operações de ocupação, o que poderia deixar os militares não só em situação vulnerável como até humilhante. Ou seja: invadir determinada favela e encontrar tudo previamente "limpo".


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