São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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Tráfico ordena fechamento de comércio em favelas

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Estabelecimentos da Vila do João fechados por ordem do tráfico, que impôs toque de recolher, respeitado apesar da presença da polícia


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Um dia após a invasão ao Depósito de Aeronáutica do Rio, traficantes de drogas ordenaram o fechamento do comércio nas favelas Vila do João e Vila do Pinheiro, no complexo da Maré (zona norte do Rio), em Bonsucesso -mesmo bairro em que fica o quartel assaltado.
Pelo menos 500 estabelecimentos, entre supermercados, lojas de material de construção, escolas particulares e pequenas biroscas, não abriram. Até mesmo camelôs que trabalham na avenida Brasil, nas imediações das duas favelas, obedeceram à ordem.
O fechamento das lojas foi em sinal de luto pela morte de três supostos traficantes durante um tiroteio com policiais militares durante a madrugada de ontem.
Apesar de o complexo da Maré ter um batalhão da PM e quatro postos de policiamento comunitário da corporação, os policiais não conseguiram impedir o toque de recolher imposto pelo tráfico. As lojas não abriram mesmo com a presença de cinco carros da Polícia Civil e de policiais militares.
As comunidades Vila do João e Vila do Pinheiro ficam nos fundos do prédio da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), onde, na noite de sábado, dois PMs e dois vigilantes foram assassinados.
Os policiais civis estavam no complexo à procura de pistas sobre as armas roubadas no depósito da Aeronáutica, entre elas 22 fuzis HK-33, e de suspeitos das mortes na Fiocruz. Até o final da tarde, ninguém tinha sido preso.
Desde a manhã, o clima nas duas favelas era de tensão. As ruas estavam completamente desertas, parecendo um feriado em pleno dia de trabalho. Com medo, os moradores evitavam sair de casa. Os que se arriscaram não queriam falar com os jornalistas.
O proprietário de uma drogaria na Vila do João disse à Folha que os traficantes só permitiram que farmácias e padarias funcionassem, ainda assim com meia porta aberta. Segundo ele, mensageiros do tráfico circularam pelas ruas, mandando as lojas fecharem.

Segurança
O comandante do 22º Batalhão (complexo da Maré), tenente-coronel Álvaro Rodrigues Garcia, afirmou que a polícia estava presente nas comunidades e que os comerciantes não reabriram as lojas porque "não quiseram".
Segundo ele, por volta da meia-noite os policiais de sua unidade trocaram tiros com traficantes da Vila do João. No confronto, supostos traficantes, conhecidos apenas pelos apelidos de Lecu, Radical e Bola, foram mortos. Seus nomes completos não foram divulgados. Com eles, a polícia diz ter apreendido um fuzil Fal, um carregador, uma granada, três bombas de fabricação caseira e 60 cartuchos de calibre 762.
O tráfico de drogas na Vila do João e na Vila do Pinheiro é controlado por Edmílson Ferreira dos Santos, o Sassá, uma das lideranças da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos). Apesar da violência, as duas comunidades se assemelham a bairros, com ruas asfaltadas e comércio variado.


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