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ADMINISTRAÇÃO
Eleição na nova organização mundial Cidades e Governos Unidos ocorre hoje em Paris; prefeita ocupará cargo por 1 ano
Marta vai presidir entidade internacional
FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS
A prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy, deverá ser eleita hoje, em
Paris, a primeira presidente da
nova organização mundial CGLU
(Cidades e Governos Unidos).
Marta concorre numa chapa
única, formada ainda pelos prefeitos de Paris, Bertrand Delanoë,
e de Pretória, Smangaliso
Mkhatswa. Cada um deles ocupará a presidência da entidade por
um ano, num total de três anos de
mandato. A prefeita brasileira foi
escolhida para inaugurar a gestão
tripartite. "Acho interessante o
primeiro presidente ser uma mulher", disse à Folha, em Paris.
A eleição ocorrerá durante o
congresso de fundação da CGLU,
que reúne desde domingo cerca
de 2.500 representantes de cidades dos cinco continentes, no
grande anfiteatro do Palais de
Congrès, em Paris. A nova organização emergiu da fusão de três
outras associações: a Iula (União
Internacional de Autoridades Locais), FMLU (Federação Mundial
de Cidades Unidas), e Metropolis
(rede de cidades com mais de 1
milhão de habitantes).
A primeira líder da entidade elegeu como prioridade a luta por
uma maior autonomia das cidades. Marta pretende estabelecer
uma nova relação, sem intermediários, com a ONU (Organização
das Nações Unidas). "As cidades
devem ter acesso direto à ONU, e
acabar com essa via triangular via
Habitat [agência das Nações Unidas para as cidades]", afirmou.
Segundo ela, o tema será discutido com o secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, durante a XI
UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento), que ocorrerá
em junho, em São Paulo.
A prefeita também quer excluir
os governos federais e nacionais
nos pedidos de empréstimos das
cidades a organizações internacionais. "Discuti isso com o presidente do Banco Mundial, James
Wolfensohn. Hoje, por exemplo,
a cidade de São Paulo não pode
solicitar empréstimo ao banco
sem passar pelo governo federal e
sem entrar na questão da dívida
internacional do Brasil", apontou.
Segundo Marta, Wolfensohn aderiu à idéia e criou um grupo de reflexão sobre a proposta.
Para a prefeita, as cidades passaram a protagonizar um papel preponderante após a Segunda Guerra Mundial, mas suas relações
com os governos nacionais e as
instituições internacionais não
acompanharam as mudanças. "É
uma mudança que vem de 30 ou
40 anos, e mais recentemente as
cidades, que passaram a abrigar
mais da metade da população do
mundo, passaram a requisitar um
maior espaço de interlocução."
A prefeita não quis comentar as
atuais polêmicas envolvendo as
obras dos túneis da avenida Brigadeiro Faria Lima e a suspensão
da licitação da coleta do lixo em
São Paulo. "Não é prioridade. O
que ocorre aqui é uma dimensão
muito diferenciada, é sobre o que
tenho de falar, é o que vou falar.
Quando voltar ao Brasil, falarei
sobre o que está acontecendo lá."
Ontem ao meio-dia, Marta
inaugurou uma exposição fotográfica comemorativa dos 450
anos de São Paulo, na Catedral de
Notre-Dame. No final da tarde,
encerrou o colóquio "São Paulo-Paris" e, à noite, participou do
jantar de gala do Congresso da
CGLU, no Carrossel do Louvre.
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