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CEARÁ
Jumento vai parar na mesa de estrangeiros
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Após ter sido substituído pelo
sertanejo por bicicletas e motos, o
jumento vai virar comida de estrangeiros. Um frigorífico instalado no interior do Ceará aguarda
apenas uma autorização do Ministério da Agricultura para começar a abater e exportar a carne
do animal para cinco países da
Europa e da Ásia.
Segundo um dos donos da
Pampa Agro-industrial, Elimárcio de Bastos Belchior, 28, nada
do que for abatido ficará no país.
"Não é da cultura do brasileiro.
Se você for na minha casa, vou
servir carne de gado ou de porco,
porque, como todo brasileiro,
não fui acostumado a comer outro tipo de carne. Mas, em países
como Japão e Bélgica, a carne de
eqüino é muito bem-aceita."
Belchior afirma que não terá um
criatório de jumentos para o abate. Os animais serão os apreendidos na beira de estradas nos Estados do Nordeste. Só no Ceará, o
Dert (Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes)
apreende entre 800 e mil jumentos por mês. A capacidade do frigorífico, instalado em Santa Quitéria (250 km de Fortaleza), é de
3.000 animais por mês.
Todo o abate será acompanhado por um veterinário do ministério, que já inspecionou o local.
Há um ano, a Comissão do
Meio Ambiente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) do Ceará e a Uipa (União Internacional
Protetora dos Animais) denunciaram a tortura e o massacre de
jumentos apreendidos pelo Dert.
Segundo publicado pela Folha,
os animais seriam enterrados ainda vivos, após passar uma semana
sem comer nem beber nada. O
Dert negou as acusações.
Foi ao saber do massacre de jumentos que Belchior teve a idéia
de deixar Minas Gerais, onde já
atuava no abate de eqüinos há
dois anos, e ir para o Ceará.
O abate de eqüinos no Brasil para exportação não é novidade.
Empresas no Rio Grande do Sul e
no Paraná atuam na área, mas o
cavalo era o animal até então mais
usado. A principal utilização da
carne de jumento é na fabricação
de embutidos, mas ela também
pode ser preparada como a carne
bovina, cozida ou assada. "O sabor é um pouco diferente, mais
adocicado", disse Belchior.
Se, por um lado, o jumento vem
sendo desprezado pela sua falta
de utilização, por outro, o culto ao
animal ainda existe em alguns locais. Um exemplo disso é o que
acontece em Panelas, no agreste
de Pernambuco. Conhecido na cidade como jerico, o jumento é homenageado há 30 anos num festival anual. Até um "jericódromo"
é montado, na principal avenida
do município, para uma corrida.
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