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Menina de 2 anos é exposta a tumulto ao depor na polícia
Presença de cinegrafistas, fotógrafos e repórteres deixa a criança apavorada e ela se recusa a falar sobre maus-tratos
Polícia do Rio diz que ideia era ouvir a versão dela sobre o período em que esteve sob a guarda de procuradora acusada de torturá-la
DIANA BRITO
DA SUCURSAL DO RIO
A menina de dois anos e dez
meses que, segundo suspeita a
polícia, sofreu maus-tratos da
mãe adotiva, foi exposta ontem
a grande tumulto ao chegar à
Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima, onde a polícia
tentou colher seu depoimento.
A intenção era que a menina
conversasse com um psicólogo
da delegacia e pudesse, assim,
falar sobre o período que passou sob a guarda da procuradora Vera Lúcia de Santana Gomes, 57, acusada de agredi-la. A
procuradora nega as agressões.
Contudo, assustada e irritada, a menina não estabeleceu
diálogo com o psicólogo e ficou
de costas para o delegado.
Na chegada à delegacia, o carro onde a garota estava foi cercado por uma dezena de cinegrafistas, fotógrafos e jornalistas, avisados do depoimento
pelo próprio delegado.
Foram necessários cerca de
dez minutos até que os ocupantes do veículo que a trouxe conseguissem passar pela imprensa e entrar na delegacia.
Apavorada, a criança desceu
do carro no colo de representantes do Juizado da Infância e
da Juventude com a cabeça coberta por um casaco -procedimento costumeiramente usado
para proteger a identidade de
acusados de crimes.
"Tentei conversar com ela,
perguntei seu nome e ela não
respondeu, só arregalou os
olhos bastante assustada", afirmou o delegado Luiz Henrique
Marques, titular da delegacia.
De acordo com Marques, a
criança foi convidada a prestar
depoimento a pedido da delegada titular da 13ª DP (Ipanema), Monique Vidal, responsável pelo caso.
Vidal, no entanto, disse que
as investigações foram encerradas na última sexta-feira.
"Se no inquérito pedi prisão
preventiva pelos dois crimes
(racismo e tortura qualificada)
é porque estou convicta de que
a procuradora os praticou e por
isso merece ser presa. O que interessa são as provas que eu colhi. Ouvir a criança é útil para o
futuro da ação penal", afirmou
a delegada.
Ontem, o "Jornal Nacional",
da TV Globo, mostrou fotos da
menina com hematomas nos
olhos e repetiu gravações em
que ela é xingada -pela procuradora, segundo os vizinhos.
Incomum
Apesar de não ser comum tomar o depoimento de crianças
tão pequenas, o juiz da Vara da
Infância e da Juventude da Capital, Marcius da Costa Ferreira, explica que não há ilegalidade na ação já que o menor é
sempre acompanhado por representantes do Juizado da Infância e Juventude.
"Juridicamente uma criança
dessa idade pode prestar depoimento para que se possa tentar
formar uma opinião sobre o
que aconteceu", diz o juiz.
"A melhor forma de ouvir essa criança é com o apoio de um
psicólogo ou assistente social,
para que ela se sinta à vontade.
É um trabalho muito delicado,
que tem que ser feito com muito critério", complementa.
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