São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

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Menina de 2 anos é exposta a tumulto ao depor na polícia

Presença de cinegrafistas, fotógrafos e repórteres deixa a criança apavorada e ela se recusa a falar sobre maus-tratos

Polícia do Rio diz que ideia era ouvir a versão dela sobre o período em que esteve sob a guarda de procuradora acusada de torturá-la

DIANA BRITO
DA SUCURSAL DO RIO

A menina de dois anos e dez meses que, segundo suspeita a polícia, sofreu maus-tratos da mãe adotiva, foi exposta ontem a grande tumulto ao chegar à Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima, onde a polícia tentou colher seu depoimento.
A intenção era que a menina conversasse com um psicólogo da delegacia e pudesse, assim, falar sobre o período que passou sob a guarda da procuradora Vera Lúcia de Santana Gomes, 57, acusada de agredi-la. A procuradora nega as agressões.
Contudo, assustada e irritada, a menina não estabeleceu diálogo com o psicólogo e ficou de costas para o delegado.
Na chegada à delegacia, o carro onde a garota estava foi cercado por uma dezena de cinegrafistas, fotógrafos e jornalistas, avisados do depoimento pelo próprio delegado.
Foram necessários cerca de dez minutos até que os ocupantes do veículo que a trouxe conseguissem passar pela imprensa e entrar na delegacia.
Apavorada, a criança desceu do carro no colo de representantes do Juizado da Infância e da Juventude com a cabeça coberta por um casaco -procedimento costumeiramente usado para proteger a identidade de acusados de crimes.
"Tentei conversar com ela, perguntei seu nome e ela não respondeu, só arregalou os olhos bastante assustada", afirmou o delegado Luiz Henrique Marques, titular da delegacia.
De acordo com Marques, a criança foi convidada a prestar depoimento a pedido da delegada titular da 13ª DP (Ipanema), Monique Vidal, responsável pelo caso.
Vidal, no entanto, disse que as investigações foram encerradas na última sexta-feira.
"Se no inquérito pedi prisão preventiva pelos dois crimes (racismo e tortura qualificada) é porque estou convicta de que a procuradora os praticou e por isso merece ser presa. O que interessa são as provas que eu colhi. Ouvir a criança é útil para o futuro da ação penal", afirmou a delegada.
Ontem, o "Jornal Nacional", da TV Globo, mostrou fotos da menina com hematomas nos olhos e repetiu gravações em que ela é xingada -pela procuradora, segundo os vizinhos.

Incomum
Apesar de não ser comum tomar o depoimento de crianças tão pequenas, o juiz da Vara da Infância e da Juventude da Capital, Marcius da Costa Ferreira, explica que não há ilegalidade na ação já que o menor é sempre acompanhado por representantes do Juizado da Infância e Juventude.
"Juridicamente uma criança dessa idade pode prestar depoimento para que se possa tentar formar uma opinião sobre o que aconteceu", diz o juiz.
"A melhor forma de ouvir essa criança é com o apoio de um psicólogo ou assistente social, para que ela se sinta à vontade. É um trabalho muito delicado, que tem que ser feito com muito critério", complementa.


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