São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2001

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Mãe diz ter visto aplicação de remédio

DA SUCURSAL DO RIO

A balconista Cristiane Soares, 27, disse ontem que viu uma enfermeira "negra e alta" aplicar o Succinil Colin em Fernando André da Silva Soares, de quatro meses, e em Renan Rodrigues, de cinco meses, na enfermaria pediátrica do hospital Salgado Filho.
"Ambos morreram 20 minutos depois. Não quero culpar as enfermeiras porque elas foram solícitas e choravam muito após a morte dos bebês", disse Cristiane.
Depois de presenciar as mortes dos bebês, a balconista afirma que impediu que as enfermeiras aplicassem qualquer medicamento nas veias de seu filho Hélio Luiz Soares, de três meses.
Segundo ela, as mães ainda foram obrigadas a tomar o antibiótico Rifampicina (300 mg). O medicamento, no entanto, estava com a validade vencida desde janeiro deste ano.
Cristiane foi uma das mães que retiraram os filhos da pediatria do Hospital Municipal Salgado Filho no último sábado.
"Quando cheguei ao hospital do Andaraí (zona norte), os médicos informaram que nem sequer havia necessidade de internação", afirmou a balconista.
A dona-de-casa Sandra Regina Felício Ramos, 26, disse ontem que sua filha Bruna, 3, que estava no leito ao lado do bebê Renan, chegou a receber uma injeção e passar mal, mas sobreviveu.
"Nossa sorte é que Bruna conseguiu falar que estava tonta, com dor, antes de desmaiar", disse Sandra, que retirou a filha do hospital Salgado Filho no sábado e que, no hospital do Andaraí, também ouviu dos médicos que a internação era desnecessária.
A frentista Cláudia Andréa da Silva, 21, mãe de Fernando André da Silva Soares, de quatro meses, não teve a mesma sorte.

Enfermeira
Cláudia também afirma que a injeção com o medicamento que teria matado seu filho foi aplicada por uma enfermeira negra e alta.
"Ela [a enfermeira" continua trabalhando normalmente, porque já encontrei com ela hoje [ontem" no hospital. Quando me viu, ela fugiu", disse a frentista.
Claudia contou que havia amamentado seu filho às 20h30 de sexta-feira. Às 21h, viu a enfermeira aplicar a medicação. Às 21h40, Fernando estava morto.
De acordo com Cláudia, a pediatra Vânia Lima Gomes, que assina o atestado de óbito apontando "causa indeterminada" para a morte, teria receitado o medicamento. "Após a morte do meu filho, ela me disse: "Mãe, você matou seu filho. Ele broncoaspirou o leite na hora da amamentação". Ao meu marido, ela disse que tinha sido meningite", afirmou.
A Folha não conseguiu localizar ontem a pediatra Vânia no Hospital Municipal Salgado Filho.
Cláudia voltou ontem ao hospital para receber o atestado que a permitiria abonar as faltas no trabalho, mas não foi recebida por nenhum membro da direção. (PEDRO DANTAS)


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