São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2006

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Maldade atiça a curiosidade, diz filósofa

Para professora, o fato de o crime ter sido cometido por Suzane von Richthofen, "bonita e bem-nascida", desperta mais interesse

Psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg diz que a dificuldade em entender o comportamento da jovem também atrai as pessoas


DA REPORTAGEM LOCAL

A curiosidade das pessoas é saber até onde vai a maldade humana. É o que diz a filósofa Dulce Maria Critelli, professora da PUC-SP, para tentar explicar por que o julgamento de Suzane e dos irmãos Cravinhos desperta tamanho interesse.
Segundo ela, o senso comum relaciona violência a motivações econômicas, como a miséria e a pobreza. "É tudo o que Suzane, uma garota bonita e bem-nascida, não realiza. O que justifica o caso dela é o oposto do que alimenta nossa crença. E a maldade do ato fica mais visível", afirma. "Assim, as pessoas querem evitar que isso se reproduza e pedem uma punição exemplar".
Para o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, que também é formado em direito e já exerceu a advocacia criminal durante 15 anos, é o inusitado desse crime que confunde as pessoas.
"É difícil explicar o comportamento dela. Essa falta de nexo provoca uma derivação para a culpa, porque, para o coletivo, alguém tem que ter culpa e deve ser executado para aplacar a ânsia do grupo social", afirma Goldberg, que é autor do livro "Cultura da Agressividade".
Para ele, Suzane acabou rompendo um tabu social ao agir de forma a planejar a morte de seus próprios pais.
"Todos temos no inconsciente uma reação de amor e ódio conjugados. Mas nos recalcamos, temos censura. Ela jogou o campo da fantasia no concreto. E aí as pessoas ficam em pânico, pensando: "Se ela, que teve todas oportunidades na vida, agiu assim, até onde eu iria num surto demencial?" E isso nos assusta", afirma.

Transmissão ao vivo
O ministro Nilson Naves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), manteve ontem a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo de proibir a transmissão ao vivo do julgamento de Suzane Von Richthofen e dos irmãos Daniel Cravinhos e Christian Cravinhos.
A Acrimesp (Associação dos Advogados do Estado de São Paulo) havia entrado com mandado de segurança solicitando a transmissão do julgamento pela TV na manhã de ontem, mas o ministro Nilson Naves entendeu que a decisão do TJ havia sido correta.
A autorização para que a sessão fosse transmitida na íntegra tinha sido dada pelo juiz Alberto Anderson Filho, que preside o caso. A medida teve o apoio do promotor do caso, Roberto Tardelli, que considera o julgamento um "evento público" e que, por isso, poderia ser televisionado.
O interesse em acompanhar o júri de Suzane e dos Cravinhos era tanta, que cerca de 5.000 pessoas se inscreveram no site do Tribunal de Justiça para acompanhar o júri. Foram 80 vagas sorteadas.
(FABIO SCHIVARTCHE)

Colaboraram a SUCURSAL DE BRASÍLIA e a Reportagem Local


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