|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Buscas exigem dose de improvisação
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empenho da Força Aérea e
da Marinha em descobrir os
restos do Airbus da Air France
não é uma mera questão humanitária ou patriótica, por ter o
acidente ocorrido com avião
que saiu do país.
É uma questão legal. Convenções internacionais definem a área de responsabilidade
brasileira em operações de SAR
(search and rescue), ou busca e
salvamento. A área inclui as
costas do país e se estende por
boa parte do Atlântico Sul, até o
meridiano de 10 Oeste.
O tamanho das áreas reflete
não só a geografia, mas a capacidade operacional das forças
armadas ou guardas-costeiras
dos diferentes países. Esses
acordos internacionais são discutidos no âmbito da Organização Internacional de Aviação
Civil e da Organização Marítima Internacional.
Marinha e FAB estão bem
equipadas para atividades de
busca e salvamento, embora
em alguns casos isso exija uma
dose de improvisação.
O principal avião responsável por buscas diurnas, o C-130
Hercules, é, na verdade, um
avião de transporte. O C-130
tem a vantagem de ter quatro
motores, autonomia, e uma cabina com ótima visibilidade.
O principal avião hoje dedicado à patrulha marítima, o P-95, é uma versão navalizada do
bimotor Bandeirante da Embraer, mas tem o inconveniente
de ter "perna curta", com raio
de ação menor que o C-130.
Os EUA estão contribuindo
com a missão com um avião
clássico de patrulha marítima,
o P-3 Orion, melhor adaptado a
missões sobre o mar.
Ironicamente, a FAB comprou este mesmo avião para renovar a sua aviação de patrulha
marítima, mas eles ainda não
estão operacionais, pois no momento oito deles estão sendo
modernizados na Espanha.
O primeiro voo de teste de
um destes aviões, conhecidos
como P-3AM, foi em abril.
Em compensação, a FAB tem
um trunfo no avião-radar
R-99B, uma das duas versões
do jato Embraer EMB-145 produzidas para atender as necessidades do Sivam (Sistema de
Vigilância da Amazônia).
O modelo R-99A tem um radar sueco capaz de detectar aeronaves a até 400 km de distância e é voltado principalmente
ao alerta aéreo antecipado -a
detecção a longa distância de
aviões inimigos, ou, no caso da
Amazônia, de contrabando.
Já o R-99B é especializado
em observação do terreno, o
chamado "sensoriamento remoto". Seu radar de abertura
sintética, além de sensores eletro-ópticos, permite visualizar
o terreno de noite ou mesmo
através de nuvens.
O fato de o radar estar a bordo de um avião torna mais fácil
localizar objetos relativamente
pequenos na superfície do mar,
algo que um radar de navio dificilmente enxergaria.
Tanto o modelo "A" como o
"B" do R-99 pertencem ao 2º
Esquadrão do 6º Grupo de
Aviação, o Esquadrão Guardião, baseado em Anápolis
(GO). Além da infraestrutura, o
clima seco do planalto é melhor
para a manutenção da complexa eletrônica de bordo.
As atividades de busca e salvamento na área marítima do
Brasil são supervisionadas pelo
Salvamar, ligado ao Comando
de Operações Navais, que aloca
os meios navais necessários a
cada missão.
Os três navios da Marinha
primeiramente envolvidos são
bem diferentes entre si. O
"Grajaú" é um moderno Navio-Patrulha, mas pequeno (deslocamento de 217 toneladas,
comprimento de 46,5 metros).
Um modelo igual foi recentemente entregue à marinha da
Namíbia; o "Brendan Simbwaye" é o primeiro navio de guerra construído e exportado por
uma empresa privada brasileira, o estaleiro Inace (Indústria
Naval do Ceará), de Fortaleza.
Já a corveta "Caboclo", de
mil toneladas, é uma rara (e obsoleta) sobrevivente da classe
de navios-patrulha comprados
à Holanda na década de 1950.
A Fragata "Constituição",
projeto britânico da década de
1970, foi modernizada e tem a
grande vantagem de ter um helicóptero orgânico, um Super
Lynx, dedicado à luta antisubmarina, mas útil para resgates.
Texto Anterior: Piloto viu clarão no dia do acidente Próximo Texto: Culto reúne mil pessoas na Candelária Índice
|