São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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Médicos alertam para a influência da indústria

Campanha no RS aborda influência "subliminar" dos laboratórios no setor

Movimento ganhou site e está sendo divulgado em escolas de medicina, hospitais e congressos médicos do Estado

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Um grupo de 12 médicos e professores de medicina do Rio Grande do Sul lançou uma campanha para alertar os profissionais da saúde para a influência exercida pela indústria farmacêutica.
Apoiada pelo Simers (Sindicato Médico do Rio Grande do Sul), a campanha "Alerta -Amostra Nunca é Grátis", ganhou um site na internet (http:// www.campanhaalerta.com.br) e está sendo divulgada em escolas de medicina, hospitais e congressos médicos do Estado.
O movimento é inspirado na organização britânica There Is No Free Lunch ("Não existe almoço grátis").
"A influência da indústria costuma ser subliminar, não nos damos conta", afirma o intensivista Guilherme Barcellos, 33, diretor do sindicato gaúcho e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar.

PESQUISAS
"Pesquisas demonstram que, se perguntamos aos médicos se eles sofrem influência, dizem que não. Se a pergunta é "Seus colegas costumam ser influenciados?", cresce muito a resposta "Sim", afirma Barcellos.
No hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, onde é preceptor, Barcellos dá palestras aos futuros médicos sobre conflitos de interesse e a importância de uma avaliação crítica da literatura científica.
"A gente foca o trabalho em quem ainda pode mudar a cabeça nessa discussão", afirma o dirigente.
Em 2008, um estudo publicado no "Jama" (jornal da Associação Médica Americana) mostrou que as atividades de ensino médico tornaram-se dependentes da indústria farmacêutica para sua realização.
Atualmente, cerca de 60% dos investimentos em educação continuada provêm da indústria.

CONGRESSO
Outra meta de Barcellos é fazer congressos médicos sem apoio da indústria farmacêutica. Em 2008, ele provou que isso é possível.
Organizou em Gramado (RS) um congresso de medicina hospitalar com despesas custeadas por hospitais, pelo Simers, pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, entre outros. Participaram 600 profissionais, inclusive palestrantes do exterior.
"A gente entrava em contato, dizia que queria muito contar com eles, mas que não tínhamos como financiar a vinda deles. A maioria não aceitou, mas outros vieram, financiados pelas instituições onde trabalham ou com seu próprio dinheiro."
Para novembro, Barcellos organiza outro evento sem participação da indústria farmacêutica: o congresso pan-americano de médicos hospitalistas, em Florianópolis.
Entre os apoiadores deste ano está a Mayo Clinic (EUA), cujos hospitais figuram entre as melhores instituições norte-americanas.


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