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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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AMBIENTE

Governo promete construir estação de esgoto, mas problema só será resolvido com limpeza do Tietê, que deve acabar em 2006

Pirapora terá paliativo para espuma poluída

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Morador passa de bicicleta em ponte sobre o rio Tietê praticamente coberta pela espuma que invadiu ruas de Pirapora do Bom Jesus


MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PIRAPORA DO BOM JESUS

Ontem de manhã, a padaria Vila Nova, em Pirapora do Bom Jesus, ficou fechada. Ilhados de um lado da ponte que leva ao centro da cidade, funcionários e o dono do negócio não conseguiam chegar até o estabelecimento. Entre eles, estava um mar de espuma suja e mal cheirosa vinda do rio Tietê.
Há algumas décadas, os moradores da cidade, na Grande São Paulo, sofrem com a espuma de poluição, que inunda ruas e praças, principalmente nas noites de inverno. E os transtornos não devem melhorar muito pelo menos nos próximos três anos.
Em visita a Pirapora ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou apenas uma medida paliativa contra o problema: a construção imediata de uma estação de tratamento de esgoto e de um sistema de coleta que deve universalizar o saneamento básico na cidade e garantir água de reuso para ser usada na dissipação da espuma. Tudo isso a um custo de R$ 3 milhões.
O fenômeno, entretanto, só começará a ser definitivamente erradicado quando o Tietê estiver menos sujo, o que só deve passar a ocorrer em 2006, prazo previsto para o fim da segunda fase do projeto de despoluição do rio.

Liquidificador de esgoto
A espuma pouco tem a ver com esgoto não tratado de Pirapora. É, sim, um produto da agitação das águas do Tietê, que chega à barragem na cidade com toda a carga poluidora de São Paulo e de sua região metropolitana -composta principalmente por esgotos domésticos in natura, mas também por resíduos industriais.
A queda de 25 m funciona como um "liquidificador" e, nessa época do ano, com a falta de chuvas, o rio fica mais vazio e dilui ainda menos os poluentes, resultando num volume maior de espuma.
Os ventos a empurram para fora do Tietê, e ela invade a cidade. Ontem de madrugada, duas pontes chegaram a ser interditadas.
A espuma pode trazer males à saúde pois carrega poluentes como o ácido sulfídrico (H2S), ao qual a exposição prolongada pode causar irritação nos olhos, dor de cabeça e fadiga, segundo a ATSDR (agência de registro de doenças causadas por substâncias tóxicas dos EUA). O gás, produto da degradação de compostos presentes, por exemplo, em detergentes, tem cheiro de ovo podre.
A inalação de altas concentrações de H2S pode levar à morte, mas a espuma do Tietê não oferece risco, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
O prefeito de Pirapora, Raul Bueno (PSDB), entretanto, já relata problemas de saúde na cidade (leia texto ao lado) e, apesar de dizer que as medidas governamentais são bem-vindas, reclama ajuda no atendimento médico.
Por causa dos eventuais danos, a juíza Maria Elisabete Bortoloto, de Barueri (Grande São Paulo), concedeu anteontem liminar ao Ministério Público da cidade estabelecendo multa de R$ 100 mil à Sabesp cada vez que a espuma chegar às ruas de Pirapora. A empresa disse desconhecer a decisão.


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