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Fapesp decide autorizar pesquisa sobre ecstasy
Presidente da fundação chegou a cancelar o projeto em junho após veiculação na mídia
Segundo as pesquisadoras, uma das idéias era avaliar "o impacto dessas informações no comportamento dos usuários da droga"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
são Paulo) decidiu ontem autorizar a continuidade do projeto
de pesquisa "Implantação e
Avaliação de Programa de Redução de Danos para o Uso de
Ecstasy na Cidade de São Paulo", coordenado pela pós-doutoranda em psicologia Stella
Pereira de Almeida, 43, e pela
professora titular do Instituto
de Psicologia da USP, Maria
Teresa Araujo Silva, 67.
O projeto havia sido suspenso por decisão de Carlos Vogt,
presidente da Fapesp, no dia 18
de junho, sob alegação de graves "denúncias veiculadas pela
imprensa", envolvendo a execução da pesquisa.
As "denúncias" consistiram
de noticiário sobre a distribuição (em festas e baladas onde é
notório o consumo de ecstasy)
de folhetos com informações
sobre como consumir a droga
com menos riscos à saúde.
Um dos folhetos distribuídos, por exemplo, dizia: "Efeitos fisiológicos do ecstasy: aumento da temperatura corporal (atingindo altos graus, há
risco de coma ou morte)". Seguiam informações sobre os
sintomas de intoxicação aguda
pela droga: "febre acima de
38ºC, tontura, náusea, confusão mental, diminuição dos reflexos, dor de cabeça, taquicardia, palpitação".
Para diminuir os riscos, o folheto propunha: "Se você pretende consumir ecstasy, evite
fazê-lo sozinho, tome líquidos
não-alcoólicos sem exagero,
vista roupas leves, descanse a
cada meia hora, quando dança.
Caso tenha sintomas de intoxicação, procure rapidamente
auxílio médico e relate o que
consumiu. Observe que portar
drogas ilegais é crime, mas relatar que as consumiu não é".
A estratégia de redução de
danos é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde e
aplicada em países como Holanda e Grã-Bretanha, além do
Brasil. Adversários, entretanto,
acreditam que algumas abordagens feitas em nome da redução de danos constituem, na
verdade, em incitamento ao
consumo de drogas.
"A idéia do projeto era exatamente avaliar o impacto dessas
informações no comportamento dos usuários da droga", diz a
professora Maria Teresa. Foi
nessa etapa que a medida suspensiva atingiu o trabalho.
Médicos, psicólogos, farmacologistas, psiquiatras -intelectuais, docentes e cientistas
com especialização em prestigiosas instituições dos EUA e
Europa- protestaram contra a
suspensão da pesquisa. Foi organizado um manifesto com
centenas de assinaturas em
apoio às pesquisadoras.
Segundo o assessor de comunicação da Fapesp, Fernando
Cunha, suspensões de financiamento "são comuns" em casos
de atrasos na entrega de relatórios científicos. Ele diz, entretanto, que "nunca viu" essa
providência ser adotada "a partir de noticiário da imprensa"
-como aconteceu no caso da
pesquisa sobre ecstasy.
O professor Roberto DeLucia, do grupo de Psicofarmacologia da USP, por exemplo, caracterizou a decisão da Fapesp
de suspender a pesquisa como
"equivocada".
A professora Maria Teresa
disse ter recebido ontem à tarde telefonema do presidente da
Fapesp, Carlos Vogt, comunicando-lhe a retomada do financiamento. A decisão foi tomada
pelo Conselho Técnico-Administrativo da fundação, que levou em consideração relatório
da comissão de sindicância designada para apreciar o caso e
parecer do assessor científico.
"É uma dupla alegria: de um
lado, poder concluir a pesquisa;
de outro, ver a comunidade
científica conseguindo que a
Fapesp siga os seus procedimentos usuais, os mesmos que
a consagraram como a importante agência que ela é."
A Folha tentou contato com
Carlos Vogt. Foi informada que
apenas o assessor Fernando
Cunha se manifestaria sobre o
assunto. Até as 22h15, Cunha
não havia respondido às solicitações das informações.
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