São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Professores aceitam acordo e decidem suspender greve

Suspensão é temporária, até que o governo Serra diga se aceita não descontar dias parados e retomar a negociação

Principal reivindicação é a revogação do decreto que cria prova para temporários e institui limite para faltas com justificativa médica


DA REPORTAGEM LOCAL

Os professores da rede estadual de São Paulo decidiram ontem, em assembléia com cerca de 3.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, suspender temporariamente a greve iniciada em junho, que já durava 21 dias.
A decisão foi tomada após acordo firmado entre o sindicato dos professores e a Procuradoria Geral do Estado, que prevê a retomada das negociações com a Secretaria da Educação e a garantia de pagamento dos dias de paralisação.
O acordo, mediado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região em audiência ontem à tarde, prevê que o governador José Serra (PSDB) decida até a próxima quinta-feira se aceita ou não os termos da proposta. Até lá, a categoria decidiu manter-se em "estado de greve". Caso a resposta seja negativa, a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado) promete retomar a greve.
A categoria havia parado no dia 16 de junho. As principais reivindicações eram um reajuste salarial de 35% e a revogação do decreto 53.037, que prevê uma prova anual para a atribuição de locais de aulas e a renovação de contratos dos professores em regime temporário -eles são 40% da rede-, além de um limite de 12 faltas anuais por justificativa médica.
No fim de junho, o governo concedeu reajuste de 5,41% mais a incorporação de gratificações. Nesta semana, foi anunciado o envio de um projeto de lei à Assembléia Legislativa que cria 70 mil vagas para professor efetivo e o corte do ponto dos grevistas.

Negociação
Embora conste da ata da reunião com o TRT que ambas as partes se comprometem a "prosseguir nas negociações sobre os temas em pauta", a Secretaria de Estado da Educação informou, por meio de nota, que todos os itens do decreto ficam mantidos e que "nenhuma questão salarial foi abordada" no acordo.
A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, classificou a decisão pelo fim da greve como "um recuo tático"."O governo não ia ceder. Temos todo o resto do ano para negociar", disse, referindo-se ao início da vigência do decreto, na prática, em fevereiro de 2009.
Apesar de a maioria dos professores ter votado pela suspensão do movimento, muitos saíram descontentes da assembléia realizada na praça da República. "O aumento foi insuficiente e os decretos não foram mexidos. Não saio satisfeito", disse o professor de física Eugênio Almeida, 37.
Defensor da greve, o professor de biologia Dionísio Ruiz, 48, se confundiu e votou na proposta de encerrar a paralisação, segundos após afirmar que interrompê-la seria "dar marcha a ré" no movimento. Ele ergueu o braço ao ouvir o enunciado da proposta - "Manter o estado de greve e retomar a negociação...".
Após a votação, houve bate-boca entre professores. Aos berros de "traição" e "fora pelegos", cerca de cem manifestantes encurralaram a presidente do sindicato na descida do carro de som da entidade. Não houve agressão física.

Reposição de aulas
Em nota, a Secretaria da Educação diz que irá definir a reposição das aulas perdidas durante a greve -a adesão ao movimento teria sido de 2%, segundo a secretaria, e de 70%, segundo o sindicato. Para a Apeoesp, a reposição deve ser definida por cada escola.

Inferno e paraíso
Durante a manifestação de ontem, a Folha encontrou professores de escolas estaduais que também dão aulas em colégios particulares. Para explicar a diferença entre as duas realidades, um dos professores falou em "inferno e paraíso". A estabilidade é o atrativo que os mantêm na rede pública.


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