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Perueiros denunciam rede de extorsões em São Paulo
Motorista de lotação é obrigado a pagar até R$ 60 por dia a título de "proteção"
Entre os investigados há
policiais, criminosos do PCC
ou que se dizem da facção;
44% dos operadores foram
substituídos em três anos
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Polícia, promotores e prefeitura investigam em São Paulo
uma rede de extorsões de que
os perueiros dizem ser vítimas
e que tem provocado uma reviravolta num mercado responsável pelo transporte de 3 milhões de passageiros por dia.
Em três anos, 44% dos motoristas de lotação -mais de
2.200- já foram retirados do
sistema oficial e substituídos.
Uma das principais razões
dos pedidos de afastamento ou
da expulsão deles das cooperativas contratadas pelo município, conforme relatam, é a resistência ou dificuldade para
pagar cobranças variadas.
Segundo relatos feitos por
perueiros às autoridades e à
própria Folha, a cobrança de
propina ocorre em toda a cidade e de várias formas. Na principal delas, eles são obrigados a
pagar até R$ 60 por dia a título
de "proteção". O não-pagamento do pedágio implica assaltos, atentados e ameaças de
morte e de expulsão das linhas.
Entre os investigados há dirigentes da categoria, policiais,
ex-policiais, criminosos do
PCC ou que se dizem da facção.
Em inquéritos na zona leste
e no ABC, há acusações de infiltração da facção nas garagens.
Na zona sul, a polícia apreendeu papéis com lemas do PCC
em uma cooperativa, além de
solicitar a prisão de seus líderes
sob a acusação de financiar
uma tentativa de resgate.
Nas zonas oeste e norte, há
apurações sobre um grupo de
nove policiais e ex-policiais que
cobrariam propinas dos perueiros. O caso foi denunciado
ao secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho, em julho de 2005 e permanece ainda sob investigação.
A prefeitura abriu sindicância há três meses sobre a situação de um dos consórcios suspeitos de ligação com o PCC, a
garagem 2 da Associação Paulistana, e recolheu mais de dez
relatos de achaques. Nesta semana, decidiu exigir, no prazo
de 30 dias, certidão de antecedentes criminais de todos os
profissionais do sistema.
Conforme os relatos, a rede
de propinas começa na obtenção de uma vaga na linha, que
pode custar até R$ 25 mil, e se
estende a retenções e taxas
aplicadas pelas cooperativas
-às quais todos são obrigados
a se filiar e que, na prática,
atuam como uma empresa.
Alguns dirigentes de cooperativas admitem publicamente
que há cobrança de pedágio em
diversas linhas, mas negam relação com as entidades que comandam. Outros afirmam não
existir esse tipo de extorsão.
"Em cada região há pessoas
que dão algum tipo de proteção
e cobram algum tipo de pedágio. É uma situação que não é a
cooperativa que controla e, infelizmente, não vamos nem
conseguir acabar", diz Paulo
Sirqueira, presidente da garagem 2 da Cooper Pam, na zona
sul, que esteve foragido em junho sob a acusação de financiar
tentativa de resgate de preso
do PCC, mas conseguiu revogar esse pedido de prisão e nega a acusação com veemência.
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