São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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Perueiros denunciam rede de extorsões em São Paulo

Motorista de lotação é obrigado a pagar até R$ 60 por dia a título de "proteção"

Entre os investigados há policiais, criminosos do PCC ou que se dizem da facção; 44% dos operadores foram substituídos em três anos


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Polícia, promotores e prefeitura investigam em São Paulo uma rede de extorsões de que os perueiros dizem ser vítimas e que tem provocado uma reviravolta num mercado responsável pelo transporte de 3 milhões de passageiros por dia.
Em três anos, 44% dos motoristas de lotação -mais de 2.200- já foram retirados do sistema oficial e substituídos.
Uma das principais razões dos pedidos de afastamento ou da expulsão deles das cooperativas contratadas pelo município, conforme relatam, é a resistência ou dificuldade para pagar cobranças variadas.
Segundo relatos feitos por perueiros às autoridades e à própria Folha, a cobrança de propina ocorre em toda a cidade e de várias formas. Na principal delas, eles são obrigados a pagar até R$ 60 por dia a título de "proteção". O não-pagamento do pedágio implica assaltos, atentados e ameaças de morte e de expulsão das linhas.
Entre os investigados há dirigentes da categoria, policiais, ex-policiais, criminosos do PCC ou que se dizem da facção.
Em inquéritos na zona leste e no ABC, há acusações de infiltração da facção nas garagens. Na zona sul, a polícia apreendeu papéis com lemas do PCC em uma cooperativa, além de solicitar a prisão de seus líderes sob a acusação de financiar uma tentativa de resgate.
Nas zonas oeste e norte, há apurações sobre um grupo de nove policiais e ex-policiais que cobrariam propinas dos perueiros. O caso foi denunciado ao secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, em julho de 2005 e permanece ainda sob investigação.
A prefeitura abriu sindicância há três meses sobre a situação de um dos consórcios suspeitos de ligação com o PCC, a garagem 2 da Associação Paulistana, e recolheu mais de dez relatos de achaques. Nesta semana, decidiu exigir, no prazo de 30 dias, certidão de antecedentes criminais de todos os profissionais do sistema.
Conforme os relatos, a rede de propinas começa na obtenção de uma vaga na linha, que pode custar até R$ 25 mil, e se estende a retenções e taxas aplicadas pelas cooperativas -às quais todos são obrigados a se filiar e que, na prática, atuam como uma empresa.
Alguns dirigentes de cooperativas admitem publicamente que há cobrança de pedágio em diversas linhas, mas negam relação com as entidades que comandam. Outros afirmam não existir esse tipo de extorsão.
"Em cada região há pessoas que dão algum tipo de proteção e cobram algum tipo de pedágio. É uma situação que não é a cooperativa que controla e, infelizmente, não vamos nem conseguir acabar", diz Paulo Sirqueira, presidente da garagem 2 da Cooper Pam, na zona sul, que esteve foragido em junho sob a acusação de financiar tentativa de resgate de preso do PCC, mas conseguiu revogar esse pedido de prisão e nega a acusação com veemência.


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