São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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Policiais fazem "bico" ilegal de perueiro

Embora sejam proibidos pela corporação de fazer atividades extras, agentes são autorizados pela prefeitura a dirigir lotações

Investigado na corregedoria da PM por enriquecimento, "cabo Sabino" se torna líder dos operadores na zona leste da capital paulista


DA REPORTAGEM LOCAL

Os policiais militares e civis de São Paulo são proibidos, pelas regras da corporação, de fazer "bico". Mas, pelas normas da prefeitura, não houve nos últimos anos nenhuma preocupação para saber se os perueiros -cujos contratos rendem, no total, R$ 1 bilhão/ano- são agentes num serviço ilegal.
A trajetória de Agnaldo Sabino Pereira, 40, presidente da Associação Paulistana, é um exemplo típico da situação.
Ele acumula em seu currículo a profissão de cabo da PM e principal liderança dos perueiros na zona leste da capital.
Na Polícia Militar, onde solicitou há um ano e dez meses uma licença não-remunerada, é alvo de apuração da corregedoria sob a suspeita de enriquecimento ilícito -que ele nega.
Entre os motoristas de lotação, com os quais trabalha desde 2001, "cabo Sabino", como é conhecido, comanda uma associação investigada pela polícia por supostas extorsões e vínculo de uma de suas filiais com a facção mais temida do Estado -informações que ele rejeita. "Não tem fundamento", diz.

Dupla função
Dirigentes das cooperativas admitem a presença de dezenas de policiais cadastrados no serviço de lotação do município. O "cabo Sabino" está desde setembro de 2004 afastado da PM, mas cresceu no sistema, a partir de 2001, enquanto ainda ganhava salário da corporação.
Ele era diretor e foi nomeado presidente da Associação Paulistana há um ano, quando Erimar Freire Neto, ex-titular do cargo, decidiu se afastar devido ao seqüestro de sua mãe.
O policial civil Rogério Aparecido Santos, conhecido por BA e assassinado em maio deste ano num ponto de lotação, era outro exemplo da dupla função: atuava como perueiro cadastrado pela prefeitura.
A linha de transporte onde ele trabalhava, na zona norte, está numa região onde perueiros já fizeram acusações sobre a infiltração de policiais cobrando pedágios das lotações.

"Amigos da cadeia"
"Os dirigentes da cooperativa estão tomando as linhas dos motoristas, pais de família, e repassando para os amigos da cadeia", afirmou um ex-perueiro à 7ª Delegacia Seccional de Polícia, em depoimento prestado no último dia 17 de março.
Ele alegou ter sofrido ameaças de Cléber Coca, 34, líder de uma garagem da Associação Paulistana, na zona leste, presidida pelo "cabo Sabino". Disse que, em sua linha, 20 dos 25 operadores foram afastados.
Coca, que já ficou preso por roubo, foi acusado também por outra testemunha de cobrar aluguel de R$ 170 por semana de cada perueiro nas linhas Encosta Norte e Jardim Robru/ São Miguel Paulista.
Procurado pela Folha nas últimas semanas, ele não respondeu aos recados que foram deixados com a sua mãe, sua irmã e com os funcionários da cooperativa. À polícia, negou as acusações.
Os 215 perueiros que eram comandados por Coca (oficialmente ele está hoje afastado da função, embora funcionários digam que ele ainda controla a garagem), na zona leste, e outros 174 da garagem 2 da Cooper Pam, na zona sul, eram integrantes da Transmetro.
Essa cooperativa foi extinta quando seu antigo líder Antônio Müller Júnior, conhecido por "Granada", foi preso pela polícia em 2003. Ele usava um nome falso e estava foragido, acusado de assaltos e assassinato e de ser ligado ao PCC.
(ALENCAR IZIDORO)


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