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Policiais fazem "bico" ilegal de perueiro
Embora sejam proibidos pela corporação de fazer atividades extras, agentes são autorizados pela prefeitura a dirigir lotações
Investigado na corregedoria da PM por enriquecimento,
"cabo Sabino" se torna líder dos operadores na zona
leste da capital paulista
DA REPORTAGEM LOCAL
Os policiais militares e civis
de São Paulo são proibidos, pelas regras da corporação, de fazer "bico". Mas, pelas normas
da prefeitura, não houve nos últimos anos nenhuma preocupação para saber se os perueiros -cujos contratos rendem,
no total, R$ 1 bilhão/ano- são
agentes num serviço ilegal.
A trajetória de Agnaldo Sabino Pereira, 40, presidente da
Associação Paulistana, é um
exemplo típico da situação.
Ele acumula em seu currículo a profissão de cabo da PM e
principal liderança dos perueiros na zona leste da capital.
Na Polícia Militar, onde solicitou há um ano e dez meses
uma licença não-remunerada,
é alvo de apuração da corregedoria sob a suspeita de enriquecimento ilícito -que ele nega.
Entre os motoristas de lotação, com os quais trabalha desde 2001, "cabo Sabino", como é
conhecido, comanda uma associação investigada pela polícia
por supostas extorsões e vínculo de uma de suas filiais com a
facção mais temida do Estado
-informações que ele rejeita.
"Não tem fundamento", diz.
Dupla função
Dirigentes das cooperativas
admitem a presença de dezenas
de policiais cadastrados no serviço de lotação do município. O
"cabo Sabino" está desde setembro de 2004 afastado da
PM, mas cresceu no sistema, a
partir de 2001, enquanto ainda
ganhava salário da corporação.
Ele era diretor e foi nomeado
presidente da Associação Paulistana há um ano, quando Erimar Freire Neto, ex-titular do
cargo, decidiu se afastar devido
ao seqüestro de sua mãe.
O policial civil Rogério Aparecido Santos, conhecido por
BA e assassinado em maio deste ano num ponto de lotação,
era outro exemplo da dupla
função: atuava como perueiro
cadastrado pela prefeitura.
A linha de transporte onde
ele trabalhava, na zona norte,
está numa região onde perueiros já fizeram acusações sobre a
infiltração de policiais cobrando pedágios das lotações.
"Amigos da cadeia"
"Os dirigentes da cooperativa
estão tomando as linhas dos
motoristas, pais de família, e
repassando para os amigos da
cadeia", afirmou um ex-perueiro à 7ª Delegacia Seccional de
Polícia, em depoimento prestado no último dia 17 de março.
Ele alegou ter sofrido ameaças de Cléber Coca, 34, líder de
uma garagem da Associação
Paulistana, na zona leste, presidida pelo "cabo Sabino". Disse
que, em sua linha, 20 dos 25
operadores foram afastados.
Coca, que já ficou preso por
roubo, foi acusado também por
outra testemunha de cobrar
aluguel de R$ 170 por semana
de cada perueiro nas linhas Encosta Norte e Jardim Robru/
São Miguel Paulista.
Procurado pela Folha nas últimas semanas, ele não respondeu aos recados que foram deixados com a sua mãe, sua irmã
e com os funcionários da cooperativa. À polícia, negou as
acusações.
Os 215 perueiros que eram
comandados por Coca (oficialmente ele está hoje afastado da
função, embora funcionários
digam que ele ainda controla a
garagem), na zona leste, e outros 174 da garagem 2 da Cooper Pam, na zona sul, eram integrantes da Transmetro.
Essa cooperativa foi extinta
quando seu antigo líder Antônio Müller Júnior, conhecido
por "Granada", foi preso pela
polícia em 2003. Ele usava um
nome falso e estava foragido,
acusado de assaltos e assassinato e de ser ligado ao PCC.
(ALENCAR IZIDORO)
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