São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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"São R$ 300 por semana", conta perueiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Perueiro da zona sul, Roberto (nome fictício), 32, trabalha numa linha de lotação há quase dois anos. Entrou no sistema só depois da licitação de 2003 e não mostrou resistência para pagar a "madeira" -propina semanal- a criminoso que se diz do PCC.
Só reclama da "extorsão" da cooperativa, que retém valores e taxas sem prestar contas. Dos R$ 15 mil que deveria receber no mês, afirma que quase metade fica retido. "Quem reclama cai fora", diz.
 
Folha - O homem que cobra a "madeira" se diz do PCC?
Roberto -
Sabemos e aceitamos.

Folha - Mas ele se apresenta, diz que vai para a facção?
Roberto -
Nós sabemos quem são os indivíduos. É igual a uma coação feita por um cara armado. Você não vai questionar.

Folha - Ele fala em nome do PCC?
Roberto -
Normalmente sim. Mas ninguém prova. É como Deus. Você prova que Deus existe? Não.

Folha - Que tipo de extorsão incomoda mais os perueiros?
Roberto -
A da cooperativa é pior. Primeiro porque a quantidade é absurda. Com a "madeira", pagamos pela segurança. Você não paga seguro do seu carro? É exatamente a mesma relação. Já as retenções da cooperativa não dão retorno. Não é colaboração. Os caras põem a mão em toda a grana.

Folha - Os criminosos que se dizem do PCC dão essa segurança toda?
Roberto -
Não acontece nada, não existe assalto do microônibus ou dos usuários. Funciona. E se não pagar a casa cai.

Folha - É semanal?
Roberto -
É. São R$ 300 por semana. Na minha linha a gente ainda tenta sempre negociar, tem semana que oferece alguns benefícios e não paga.

Folha - Que tipo de benefício?
Roberto -
Transporte, faz um favor para alguém lá.

Folha - E quem paga?
Roberto -
Passa pela mão do coordenador da linha.


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