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EUA terão de pagar adicional a brasileiros
Consulado no Rio é condenado a remunerar ex-funcionários com o mesmo valor de periculosidade pago aos americanos
Benefício é dado a servidores americanos em locais considerados violentos e sob risco
de ações terroristas
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A Justiça do Trabalho condenou a Embaixada dos EUA no
Brasil a remunerar dois ex-funcionários do consulado do Rio
com o adicional de periculosidade pago aos servidores americanos em locais considerados
violentos e sob risco de ações
terroristas. Embora trabalhem
no mesmo prédio e estejam sujeitos aos mesmos riscos, o
"danger pay" -nome do adicional correspondente a 25% do
salário- só é pago no Rio a funcionários nascidos nos EUA. Os
brasileiros não o recebem.
Outras duas ações trabalhistas estão em fase final. Um dos
processos é movido pelo ex-funcionário Valdemar José Nogueira Campos Mary, que trabalhou no consulado de 1987 a
2005, como investigador de
fraudes. A causa de Lúcia de Fátima Santos Castro, outra funcionária, já está na etapa de
anúncio de sentença.
Nas ações, os brasileiros se
queixam de que, em caso de
ataque terrorista ao consulado
(centro do Rio), eles seriam
preteridos no planejamento de
socorro. A analista de sistemas
Lúcia de Fátima, que aguarda a
sentença da 11ª Vara do Trabalho, relata que nas simulações,
os brasileiros têm ordem para
esperar ajuda no sétimo andar.
Já os americanos são orientados a ir para o décimo andar,
onde alcançam o heliporto. Só
há um elevador para o décimo
andar, que permanece trancado, mas os funcionários americanos têm a chave. "Nos simulados de ataques, realizados pelo menos uma vez por ano, os
brasileiros ficam trancados em
um andar, enquanto os americanos têm a possibilidade de
escapar de helicóptero", disse
ela, que trabalhou no consulado de 1991 a 2004.
Nas ações, os ex-funcionários nascidos no Brasil reclamam também do não pagamento de benefícios previstos
na legislação brasileira, mas
não na americana, como repouso remunerado, por exemplo.
Empregada no consulado por
23 anos (1982 a 2005), a assistente administrativa Kláudia
Sander Alvarez obteve em abril
sentença favorável da 70ª Vara
do Trabalho. A embaixada foi
condenada à revelia, pois não
enviou representante às audiências. A ex-servidora requereu na Justiça o pagamento do
repouso remunerado e o adicional de periculosidade.
"Os brasileiros nunca receberam nenhum pagamento por
periculosidade, mesmo trabalhando em local de alto risco.
Um estudo deles mostra o consulado do Rio como um dos dez
prédios mais perigosos e vulneráveis da diplomacia americana
em todo o mundo", afirmou ela,
que não sabe ainda a quanto terá direito, pois o valor da indenização está em fase de cálculo.
A outra ex-servidora que ganhou a ação é Maria José Passos, assistente de programas
culturais de 1989 a 2006. Embora a sentença seja de outubro
do ano passado, ela até agora
não sabe quanto receberá.
A advogada Cláudia Spoladore, contratada por Lúcia, Kláudia e Valdemar Mary, avalia
que a ausência de representantes americanos nas audiências
decorre de uma estratégia para
invocar que as leis brasileiras
não podem ser aplicadas nos
casos trabalhistas.
"O Estado estrangeiro não
dispõe de imunidade de jurisdição perante a Justiça brasileira
quando se trata de causas trabalhistas. Os privilégios diplomáticos não podem ser invocados em processos na área da
Justiça do Trabalho", disse.
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