Prefeitura anuncia hoje detalhes do edital da licitação para contratar o escritório de arquitetura que fará o projeto

Segundo três arquitetos consultados pela Folha, valor está bem acima dos padrões brasileiros, mas eles elogiam a iniciativa

EVANDRO SPINELLI
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo estima gastar até R$ 12 milhões com a elaboração do projeto urbanístico para a revitalização da cracolândia, rebatizada pelo governo de Nova Luz.
A prefeitura anuncia hoje os detalhes do edital da licitação para a contratação do escritório de arquitetura que fará o projeto. O edital será publicado amanhã. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) já declarou que vários escritórios do Brasil e do exterior têm demonstrado interesse no projeto.
O valor pago é bastante fora dos padrões brasileiros, segundo arquitetos ouvidos pela Folha (Jorge Wilheim, Nadia Somehk e Valter Caldana).
"R$ 12 milhões é um valor atraente [para um projeto urbanístico] em qualquer lugar do mundo. Eu acho ótimo que o valor seja alto porque os arquitetos são vergonhosamente mal pagos no Brasil", afirma Wilheim, que trabalhou com o prefeito Faria Lima nos anos 60 e foi secretário de Planejamento Urbano na administração de Marta Suplicy (PT).
Ele diz ainda não ter decidido se participará da licitação.
"R$ 12 milhões é bom demais", afirma Somehk. Ela diz que nunca viu honorários desse valor no Brasil, "mas também nunca houve um projeto urbanístico dessa grandeza".
Caldana, diretor da Faculdade de Arquitetura do Mackenzie e ex-conselheiro do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), afirma: "Para a realidade brasileira, é um valor absolutamente impressionante, bem acima da média das licitações nacionais".
Em termos internacionais, porém, o valor "não é tão grandioso", segundo avaliação da Caldana. Ele cita como exemplo o valor que o governo do Estado de São Paulo planeja pagar para os arquitetos suíços Jacques Werzog e Walter de Meuron pelo projeto do centro cultural que deve ser construído ao lado Sala São Paulo, vizinha da cracolândia.
A dupla, que projetou o estádio Ninho de Pássaro em Pequim, deve receber cerca de R$ 24 milhões por um projeto de 95 mil metros quadrados.
"Conversei com arquitetos de fora, e eles esperavam para a Luz [nos cerca de 360 mil metros quadrados] um valor parecido com o que o governo do Estado vai pagar para Werzog e De Meuron", diz Caldana.
O projeto urbanístico dará as diretrizes para a construção do novo bairro a ser erguido na área deteriorada onde viciados usam drogas à luz do dia nas ruas -quais tipos de prédios poderão ser feitos em cada local, onde serão as praças etc.
As obras serão feitas pela iniciativa privada pelo sistema de concessão urbanística: a prefeitura transfere à empresa o direito de desapropriar os imóveis e depois lucrar com a revenda de uma área recuperada. Em troca, a empresa fará as obras públicas estabelecidas no projeto urbanístico.
O projeto só deve ficar pronto no segundo semestre de 2010. Só depois disso será aberta a licitação da concessão urbanística. Se tudo correr bem, as obras de revitalização começarão em 2011.


Texto Anterior: Aviação 2: Rio libera o Santos Dumont com restrições
Próximo Texto: Cracolândia: Prédios darão lugar a dois conjuntos habitacionais
Índice