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Jovens fizeram exame que atesta agressões só 2 dias após prisão
Acusados de agredir e matar uma moça, Renato, William e Wagner acusam a polícia de torturá-los para obter a confissão
Depois de 2 anos de prisão, os três rapazes foram soltos porque a polícia afirma que outro homem confessou ter matado Vanessa de Freitas
ANDRÉ CARAMANTE
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil de Guarulhos
(Grande São Paulo) levou dois
dias para realizar os primeiros
exames de corpo de delito em
Renato de Brito, 24, William
Silva, 28, e Wagner da Silva, 25,
quando eles foram presos por
PMs em agosto de 2006, acusados de violentar sexualmente e
assassinar Vanessa Batista de
Freitas, 22.
Depois de dois anos na prisão, eles foram soltos anteontem porque a polícia afirma que
Leandro Basílio Rodrigues, 19,
chamado de "maníaco de Guarulhos", confessou com detalhes o assassinato de Vanessa.
De acordo com documentos
da Secretaria da Segurança Pública, os três foram presos por
PMs na manhã do dia 19 de
agosto de 2006, um sábado.
Mas eles só foram apresentados para a realização do corpo
de delito -exame que visa
constatar marcas de violência
em acusados- no dia 21, uma
segunda-feira.
No boletim de ocorrência
(n.º 9.456/2006) sobre a prisão
em flagrante dos três, o delegado Paulo Roberto Martins, à
época plantonista do 1º Distrito
Policial de Guarulhos, manda
que o exame seja realizado. Hoje Martins é investigado pela
suposta tortura aos três presos.
Mas a ordem do delegado demorou dois dias para ser cumprida e, nos laudos assinados
pelas médicas legistas Iris
Adriani Caserta e Silvia C.
Mauro, as conclusões foram:
"Não constatamos nenhuma
lesão recente de interesse médico legal" e "o examinado, ao
ser perguntado sobre possíveis
lesões de interesse médico legal, nada informou".
Outros três exames foram
feitos nos presos em 2006, por
outros legistas, e deram negativo: em 24 de agosto, 22 de setembro e 21 de outubro.
Para o advogado Roberto
Delmanto Junior, especialista
em direito criminal, o fato de a
ordem do delegado não ter sido
cumprida no próprio dia 19 é
mais um indício de que algo foi
feito contra os presos. Não há
lei que obrigue presos em flagrante a passar pelo exame.
"Quando demora muito para
fazer o exame é porque o sujeito tinha sinais inequívocos de
violência", disse Luiz Flávio
Gomes, mestre em direito penal pela USP, professor doutor
em direito penal pela Universidade Complutense de Madri
(Espanha) e ex-juiz.
Segundo policiais civis do 1º
DP, em Guarulhos, todos os
exames de corpo de delito são
realizados dentro do próprio
DP, em uma sala improvisada.
Prisão
Dos três presos naquela manhã de 19 de agosto de 2006,
Renato, ex-companheiro de
Vanessa e com quem teve uma
filha, foi o primeiro a ser preso
pelos PMs Richardson Alves de
Alcântara e Ezequiel Ramos da
Motta. A prisão ocorreu às 10h,
mas ele só foi apresentado, ainda segundo documentos da Segurança Pública, às 16h30 ao
delegado Martins, no 1º DP.
No intervalo entre a prisão
em casa e a chegada ao DP, Renato diz ter sido levado para um
local despovoado de Guarulhos
e agredido. Depois, os PMs
prenderam o seu primo, William, e o levaram para o local
onde Renato já era torturado.
Os dois PMs disseram ao delegado que Renato confessou
"espontânea e voluntariamente" o crime e ainda teria tentado suborná-los com R$ 20 mil.
Wagner teria sido denunciado por Renato e também foi
preso ainda na manhã de 19 de
agosto de 2006, em sua casa. Na
versão da polícia, apenas Renato confessou o crime.
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