São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROUBO
Homicídio, investigado sob sigilo, envolve disputa por R$ 37 milhões roubados do Banespa em julho
Policial é suspeito da morte de advogado

MÔNICA BERGAMO
da Reportagem Local

Os R$ 37 milhões roubados em julho do Banespa, no maior assalto a banco da história do Brasil, desencadearam uma "caça ao tesouro" que já envolveu policiais em acusações de sequestro, extorsão e até suspeita de assassinato.
Em vez de prender os bandidos, alguns escrivães e investigadores estiveram empenhados em encontrar os assaltantes para forçá-los a dividir o dinheiro do roubo.
A história mais explosiva está sendo investigada sob rigoroso sigilo pelo DHPP, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. É o assassinato, com cinco tiros no peito, de Wanderlei Paleari Pereira, advogado de um dos acusados pelo roubo ao Banespa. Um dos suspeitos da morte é o escrivão R.C., do 70º DP.
A Folha optou por se referir ao suspeito com as iniciais de seu nome, já que não conseguiu localizá-lo. Há 31 dias R.C. não aparece no distrito para trabalhar. O nome do policial surgiu no depoimento de Edson Luiz Cervini, 22, o Nenê, preso no dia 15 de setembro.
Nenê confessa que participou do assalto ao Banespa e diz que ficou com R$ 2,2 milhões. Ele conta que alugou um apartamento na zona sul da cidade, guardou o dinheiro e se escondeu.
Alguns dias depois, recebeu um telefonema de Paleari. O advogado lhe contou que havia sido procurado por dois investigadores. Os policiais mentiram, dizendo que haviam prendido Nenê, e exigiam o pagamento de R$ 400 mil para libertá-lo.
Paleari estava telefonando para avisar Nenê que ele já havia sido delatado. Planejando fugir, o ladrão foi até o apartamento onde escondera o dinheiro. Lá, encontrou a porta arrombada. Os R$ 2,2 milhões haviam sumido. O ladrão tinha sido "roubado".
Nenê e Paleari passaram a investigar o "roubo". Suspeitando de policiais, o advogado foi até o prédio onde o dinheiro ficara escondido e mostrou aos porteiros a foto do escrivão R.C. O policial foi reconhecido.
Nenê, por sua vez, soube por outros ladrões que uma mulher, conhecida como Inês, informante da polícia, sabia mais sobre o "roubo". Inês colocou Nenê em contato telefônico com o mesmo policial R.C. -que negou tudo.
Em depoimento informal na corregedoria de polícia, parentes do advogado relataram que ele passou a intermediar uma negociação entre o policial R.C. e Nenê. O policial chegou a visitar o escritório de Paleari, onde conversou por telefone com Nenê.
Em vez de tentar prender o acusado, R.C. ficou dando explicações. Segundo o depoimento de Nenê, o policial negou que tivesse "roubado" o assaltante pois tinha "um nome a zelar no meio da malandragem".

Encontro
De acordo com os parentes de Paleari, policial e acusado combinaram de se encontrar no escritório de advocacia no dia seguinte para uma nova rodada de negociação. Na hora marcada, nenhum dos dois apareceu.
Em vez deles, surgiu um rapaz pardo, de cerca de 1,62 m, aparentando 22 anos, que se identificou como Marcos da Silva, irmão de um presidiário. O advogado não estava. O rapaz resolveu esperar.
O advogado Paleari chegou ao escritório e atendeu "Marcos". De repente, o rapaz pediu para ir ao banheiro. Ao sair, apontou uma pistola calibre 380 para o peito do advogado e atirou cinco vezes.
Apontou para a mulher do advogado, Rosângela, 22, e atirou oito vezes. Atirou também na recepcionista, Ângela. No total, disparou 18 vezes. Nenhum tiro foi ouvido, ele usava um silenciador.
A polícia desconfia de queima de arquivo e aponta para o escrivão R.C. Há também a possibilidade, mais remota, de vingança. Nesse caso, o suspeito é Nenê, que poderia acreditar numa aliança entre o advogado e o policial para lhe tirar dinheiro.
O acusado, por sua vez, termina o depoimento afirmando ter "certeza que a mulher do advogado, que sobreviveu e teria acompanhado as negociações, poderá dar mais informações sobre o crime". A polícia aguarda que Rosângela se apresente espontaneamente para um depoimento.


Texto Anterior: Marilene Felinto: Moral de rebanho, de doçura feminina e cristã
Próximo Texto: Policial "seduzido" é minoria
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.