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ROUBO
Homicídio, investigado sob sigilo, envolve disputa por R$ 37 milhões roubados do Banespa em julho
Policial é suspeito da morte de advogado
MÔNICA BERGAMO
da Reportagem Local
Os R$ 37 milhões roubados em
julho do Banespa, no maior assalto a banco da história do Brasil,
desencadearam uma "caça ao tesouro" que já envolveu policiais
em acusações de sequestro, extorsão e até suspeita de assassinato.
Em vez de prender os bandidos,
alguns escrivães e investigadores
estiveram empenhados em encontrar os assaltantes para forçá-los a dividir o dinheiro do roubo.
A história mais explosiva está
sendo investigada sob rigoroso sigilo pelo DHPP, o Departamento
de Homicídios e Proteção à Pessoa. É o assassinato, com cinco tiros no peito, de Wanderlei Paleari
Pereira, advogado de um dos acusados pelo roubo ao Banespa. Um
dos suspeitos da morte é o escrivão R.C., do 70º DP.
A Folha optou por se referir ao
suspeito com as iniciais de seu nome, já que não conseguiu localizá-lo. Há 31 dias R.C. não aparece no
distrito para trabalhar. O nome
do policial surgiu no depoimento
de Edson Luiz Cervini, 22, o Nenê,
preso no dia 15 de setembro.
Nenê confessa que participou
do assalto ao Banespa e diz que ficou com R$ 2,2 milhões. Ele conta
que alugou um apartamento na
zona sul da cidade, guardou o dinheiro e se escondeu.
Alguns dias depois, recebeu um
telefonema de Paleari. O advogado lhe contou que havia sido procurado por dois investigadores.
Os policiais mentiram, dizendo
que haviam prendido Nenê, e exigiam o pagamento de R$ 400 mil
para libertá-lo.
Paleari estava telefonando para
avisar Nenê que ele já havia sido
delatado. Planejando fugir, o ladrão foi até o apartamento onde
escondera o dinheiro. Lá, encontrou a porta arrombada. Os R$ 2,2
milhões haviam sumido. O ladrão
tinha sido "roubado".
Nenê e Paleari passaram a investigar o "roubo". Suspeitando
de policiais, o advogado foi até o
prédio onde o dinheiro ficara escondido e mostrou aos porteiros
a foto do escrivão R.C. O policial
foi reconhecido.
Nenê, por sua vez, soube por
outros ladrões que uma mulher,
conhecida como Inês, informante
da polícia, sabia mais sobre o
"roubo". Inês colocou Nenê em
contato telefônico com o mesmo
policial R.C. -que negou tudo.
Em depoimento informal na
corregedoria de polícia, parentes
do advogado relataram que ele
passou a intermediar uma negociação entre o policial R.C. e Nenê. O policial chegou a visitar o escritório de Paleari, onde conversou por telefone com Nenê.
Em vez de tentar prender o acusado, R.C. ficou dando explicações. Segundo o depoimento de
Nenê, o policial negou que tivesse
"roubado" o assaltante pois tinha
"um nome a zelar no meio da malandragem".
Encontro
De acordo com os parentes de
Paleari, policial e acusado combinaram de se encontrar no escritório de advocacia no dia seguinte
para uma nova rodada de negociação. Na hora marcada, nenhum dos dois apareceu.
Em vez deles, surgiu um rapaz
pardo, de cerca de 1,62 m, aparentando 22 anos, que se identificou
como Marcos da Silva, irmão de
um presidiário. O advogado não
estava. O rapaz resolveu esperar.
O advogado Paleari chegou ao
escritório e atendeu "Marcos". De
repente, o rapaz pediu para ir ao
banheiro. Ao sair, apontou uma
pistola calibre 380 para o peito do
advogado e atirou cinco vezes.
Apontou para a mulher do advogado, Rosângela, 22, e atirou oito vezes. Atirou também na recepcionista, Ângela. No total, disparou 18 vezes. Nenhum tiro foi
ouvido, ele usava um silenciador.
A polícia desconfia de queima
de arquivo e aponta para o escrivão R.C. Há também a possibilidade, mais remota, de vingança.
Nesse caso, o suspeito é Nenê, que
poderia acreditar numa aliança
entre o advogado e o policial para
lhe tirar dinheiro.
O acusado, por sua vez, termina
o depoimento afirmando ter "certeza que a mulher do advogado,
que sobreviveu e teria acompanhado as negociações, poderá dar
mais informações sobre o crime".
A polícia aguarda que Rosângela
se apresente espontaneamente
para um depoimento.
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