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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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NOVOS ANDARILHOS

Desde julho de 94, passagens de ônibus em 8 capitais subiram até 62% acima da inflação, expulsando passageiros

Tarifa alta cria os excluídos do transporte

ALENCAR IZIDORO
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

As tarifas dos ônibus urbanos no país subiram acima da inflação nos últimos nove anos, num fenômeno que tem expulsado as classes mais baixas do acesso aos meios de transporte coletivo.
Levantamento da Folha em oito capitais aponta que, desde a implantação do Plano Real, em julho de 1994, todas elevaram os preços dos coletivos entre 28,7% e 62,2% acima da variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Em seis delas, a passagem atual é, no mínimo, 48% superior àquela que seria cobrada se ela acompanhasse a inflação. O INPC é calculado pelo IBGE visando orientar os reajustes salariais dos trabalhadores -aponta variações dos custos de quem ganha de um a oito salários mínimos.
Em São Paulo, a passagem de ônibus nesse período subiu 240% -de R$ 0,50 para R$ 1,70. Caso seguisse a inflação, que acumulou 164,15%, ela deveria custar hoje perto de R$ 1,32. A mesma situação se repete com a tarifa de metrô. O bilhete unitário passou de R$ 0,60 para R$ 1,90, um reajuste de 216,7%. Pela variação do INPC, deveria custar agora R$ 1,58.
A justificativa de empresários e governos para esses aumentos é a elevação do preço dos insumos do transporte e a queda da demanda. Formou-se um ciclo vicioso: a população de baixa renda deixa de andar de ônibus porque a tarifa é cara, a tarifa sobe porque a quantidade de usuários não pára de cair e acaba expulsando ainda mais gente dos coletivos.
Nas principais capitais, a queda média de usuários de ônibus de julho de 1994 para cá foi de 24%. Em São Paulo, já descontados os que migraram dos ônibus para as lotações, 2 milhões de viagens diárias deixaram de ser computadas no transporte público -eram 163 milhões de passageiros mensais há oito anos, contra menos de 99 milhões na média de 2003.
Parte da migração é atribuída aos que aderiram ao transporte individual e à rede metroviária, mas, segundo especialistas, a maioria deixou de usar os coletivos por razões financeiras.
"A renda média do usuário de ônibus é próxima de R$ 400 por mês. Se fizer duas viagens por dia [ida e volta do trabalho], gastará 15% de seu salário com transporte. Se fizer quatro, gastará 30%", exemplifica Jaime Waisman, professor da USP, citando pesquisas que apontam um perfil desses passageiros na capital paulista.
Dois estudos divulgados nos últimos três meses, do Itrans (Instituto de Desenvolvimento e Informação em Transporte) e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, apontaram que as classes D e E estavam deixando de usar os meios de transporte motorizados para andar a pé ou de bicicleta.
Segundo uma pesquisa do governo federal concluída em 2002, esse segmentos, com renda familiar de até R$ 496, eram 45% da população, mas, em cinco grandes centros, somavam apenas 27,5% dos usuários de ônibus.
Em 2002, estudo da Associação Nacional de Transportes Públicos apontou que, das 204 milhões de viagens diárias no país (distâncias superiores a 500 m), 43,6% eram feitas a pé e 7,4%, de bicicleta.


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